Almeida Garrett
João Batista
da Silva Leitão de Almeida Garrett e mais tarde 1.º Visconde de Almeida Garrett
nasceu no Porto, a 4 de fevereiro de 1799 e faleceu em
Lisboa, a 9 de dezembro de 1854. Nasceu na antiga Rua do
Calvário, n.ºs 18, 19 e 20 (atual Rua Dr. Barbosa de Castro, n.ºs 37, 39 e 41),
na freguesia da Vitória, no Porto. Era filho de António Bernardo da Silva,
selador-mor da Alfândega do Porto, e de Ana Augusta d'Almeida Leitão.
Foi um escritor e dramaturgo romântico, orador, par
do reino, ministro e secretário de estado honorário português.
Grande
impulsionador do teatro em Portugal, uma das maiores figuras do
Romantismo português. Foi ele quem propôs a edificação (construção) do Teatro Nacional
de D. Maria II e a criação do Conservatório de Arte Dramática.
Almeida Garrett participou na revolução
liberal de 1820, de seguida foi para o exílio na Inglaterra em
1823, após a Vila-francada antes. Casou-se com uma muito jovem senhora,
Luísa Midosi, que tinha apenas 15 anos, de quem se viria a separar, mais tarde.
Foi em Inglaterra que tomou contacto
com o movimento romântico, descobrindo Shakespeare, Walter Scott e outros autores e visitando castelos
feudais e ruínas de igrejas e abadias
góticas, vivências que se refletiriam na sua obra posterior.
Poemas
·
Hino Patriótico, poema. Porto, 1820
- Ao corpo académico, poema. Coimbra 1821
- Retrato de Vénus, poema Coimbra, 1821
- Camões, poema. Paris, 1825
- Dona
Branca ou a Conquista do Algarve, poema. Paris, 1826 (pseud. de F. E.)
- Adozinda, poema. Londres, 1828
- Lyrica de João Mínimo. Londres, 1829
- Miragaia, poesia. Lisboa, 1844
- Flores sem Fruto, poesia. Lisboa, 1845
- Os Exilados, À Senhora Rossi Caccia , poesia. Lisboa, 1845
- Folhas Caídas, poesia. Rio de Janeiro e depois Lisboa,1853
- Camões, poema. 4ª ed. revista, com estudo de Camilo Castelo Branco. Porto, 1854
Obras póstumas
- Dona Branca ou a Conquista do Algarve, poema. Porto Alegre, 1859
- Dona Branca ou a Conquista do Algarve, poema. Nova York, 1860
- Bastardo do Fidalgo, poema. Porto, 1877
- Odes Anacreônticas: Ilha Graciosa. Évora, 1903
- A Anália, poesia inédita de Garrett. Lisboa 1932 (redac., Porto 1819)
- Magriço ou Os Doze de Inglaterra, poema. Coimbra, 1948
- Roubo das Sabinas, poemas libertinos I. Lisboa, 1968
- Afonseida, ou Fundação do Império Lusitano, poema. Lisboa 1985 (pseud: Josino Duriense, redac., Angra 1815-16)
- Poesias Dispersas. Lisboa, 1985
- Magriço e os Doze de Inglaterra, poema incompleto, Lisboa, 1914
Peças teatrais
- Catão, tragédia. Lisboa, 1822
- O Corcunda por amor. Lisboa, 1822 [edição conjunta com Catão]
- Catão, tragédia. Londres, 1830
- Catão, tragédia. Rio de Janeiro, 1833
- Catão, tragédia. Lisboa, 1845
- Mérope, tragédia. Lisboa, 1841
- O Alfageme de Santarém ou A Espada do Condestável. Lisboa, 1842
- Um Auto de Gil Vicente. Lisboa, 1842
- Frei Luís de Sousa, 1843
- Dona Filipa de Vilhena, comédia. Lisboa, 1846
- Falar Verdade a Mentir, comédia. Lisboa 1846
- A Sobrinha do Marquês, 1848
- Camões do Rossio, comédia. Lisboa, 1852 (co-autoria de Inácio Feijó)
Obras póstumas
- Um noivado no Dafundo ou Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso: provérbio n'um acto (redac., Lisboa, 1847). Lisboa, 1857 ;
- Impromptu de Sintra, comédia (redac., Sintra, 1822). Lisboa, Guimarães, Libanio, [1898];
- Átala, drama (redac., Coimbra 1817). Lisboa, 1914 [inacabado];
- Lucrécia, tragédia (redac., Coimbra, 1819). Lisboa, 1914;
- Afonso de Albuquerque, tragédia (redac., Coimbra, 1819). Lisboa, 1914 [inacabado];
- Sofonisba, tragédia (redac., Coimbra, 1819). Lisboa, 1914[inacabado];
- O Amor da Pátria, elogio dramático (redac. Coimbra 1819). Lisboa, 1914;
- La Lezione Agli Amanti, ópera bufa (redac., Porto, 1819-20). Lisboa, 1914;
- Conde de Novion, comédia (redac., Lisboa). Lisboa, 1914;
- Édipo em Colona, tragédia (redac., Terceira, 1816; revisão, Coimbra, 1818). Lisboa, 1952 [inacabado];
- Ifigénia em Tauride, tragédia (redac., Terceira, 1816). Lisboa, 1952 [inacabado];
- Falar Verdade a Mentir, comédia (redac., Lisboa). Rio de Janeiro, 1858;
- As Profecias do Bandarra, comédia (redac., Lisboa 1845). Lisboa, 1877;
- Os Namorados Extravagantes, drama (redac. Sintra, 1822). Coimbra 1974.
Artigos, ensaios, biografias e folhetos
- Proclamações Académicos, Coimbra, 1820, folhetos
- O Dia Vinte e Quatro de Agosto, ensaio político. Lisboa, 1821, 53 p.
- Aos Mortos no Campo da Honra de Madrid, folheto. Lisboa, Jornal da Sociedade Literária Patriótica, 1822
- Da Europa e da América e de Sua Mútua Influência na Causa da Civilização e da Liberdade, ensaio político. Londres 1826
- Da Educação. Londres, 1829
- Portugal na Balança da Europa: do que tem sido e do que ora lhe convém ser na nova ordem de coisas do mundo civilizado, Londres, 1830
- Relatório dos Decretos nº 22, 23 e 24 (Reorganização da Fazenda, Administração Pública e Justiça). Lisboa, 1832, folheto
- Manifesto das Cortes Constituintes à Nação, folheto. Lisboa, 1837
- Necrologia do Conselheiro Francisco Manuel Trigoso de Aragão Morato, Lisboa, 1838
- Relatório ao Projecto de Lei sobre a Propriedade Literária e Artística, Lisboa, 1839
- Memória Histórica do Conselheiro A. M. L. Vieira de Castro, Lisboa, 1843
- Conselheiro J. B. de Almeida Garrett, autobiografia. Lisboa, 1844
- Memória Historica da Duqueza de Palmella: D. Eugénia Francisca Xavier Telles da Gama, Lisboa, 1845
- Memória Histórica do Conde de Avilez, 1ª ed., Lisboa, 1845
- Da Poesia Popular em Portugal, ensaio literário. Lisboa, 1846
- Sermão pregado na dedicação da capela de Nª Srª da Bonança, folheto, Lisboa, 1847
- A Sobrinha do Marquês, Lisboa, 1848, 176 p.
- Memória Histórica de J. Xavier Mousinho da Silveira, Lisboa, 1849
- Necrologia de D.ª Maria Teresa Midosi, Lisboa, 1950
- Protesto Contra a Proposta sobre a Liberdade de Imprensa, abaixo-assinado/folheto. Lisboa 1850 (subscrito, à cabeça, por Alexandre Herculano e mais cinquenta personalidades, contra o projecto de «lei das rolhas» apresentado pelo governo)
Obras póstumas
- Discursos Parlamentares e Memorias Biographicas, Lisboa, Imprensa Nacional, 1871, 438, p.
- Necrologia do Sr. Francisco Krus; Monumento ao Duque de Palmela, D. Pedro de Sousa Holstein, Lisboa, 1899 (redac., Lisboa, 1839);
- Memórias Biográficas, Lisboa, Empreza da História de Portugal, 1904
- Necrologia à Morte de D. Leocádia Teresa de Lima e Melo Falcão Vanzeler, Lisboa, 1904 (redac., Lisboa, 1848)
- Apontamentos Biográficos do Visconde d'Almeida Garrett, autobiografia. Porto, 1916
- Entremez dos Velhos Namorados que Ficaram Logrados, Bem Logrados, Lisboa, 1954 (redac., 1841)
Romances, cancioneiros e contos
- Bosquejo da História da Poesia e da Língua Portuguesa, Paris, 1826
- Lealdade, ou a Vitória da Terceira, canção. Londres, 1829
- Romanceiro e Cancioneiro Geral, vol. I. Lisboa, 1843
- O Arco de Sant'Ana, romance. Lisboa, na Imprensa Nacional, 1845, vol. 1
- Viagens na Minha Terra, romance. Lisboa, Typ. Gazeta dos Tribunais, 1846, 2 v. (Vol. I ; Vol. II; 2 vol. juntos)
- O Arco de Sant'Ana, romance. Lisboa, na Imprensa Nacional, 1850, vol. 2
- Romanceiro e Cancioneiro Geral, vols. II e III, Lisboa 1851
Obras póstumas
- Helena: fragmento de um romance inédito. Lisboa, 1871
- Memórias de João Coradinho, aventuras picarescas. Lisboa, 1881 (redac., 1825)
- Joaninha dos Olhos Verdes. Lisboa, 1941
- Komurahi - História Brasileira, conto. 1956 (redac., 1825)
- Cancioneiro de romances, xácaras e soláus e outros vestígios da antiga poesia nacional. Lisboa, 1987 (redac., 1824)
Cartas e diários
- Carta de Guia para Eleitores, em Que se Trata da Opinião Pública, das Qualidades para Deputado e do Modo de as Conhecer, ensaio político. Lisboa, 1826
- Carta de M. Cévola ao futuro editor do primeiro jornal liberal que em português se publicar, panfleto político. Londres, 1830 (pseud.: Múcio Cévola)
- Carta sobre a origem da língua portuguesa, ensaio literário. Lisboa, 1844
Obras póstumas
- Diário da minha viagem a Inglaterra, Lisboa 1881 (redac., Birmingham, 1823)
- Cartas a Agostinho José Freire, Lisboa, 1904, 132 p. (redac., Bruxelas, 1834)
- Cartas Íntimas, edição revista, coordenada e dirigida por Teófilo Braga. Lisboa, Empresa da História de Portugal, 1904, 172 p.
- Cartas de Amor à Viscondessa da Luz, Lisboa, 1955
- Correspondência do Conservatório, Lisboa, 1995 (redac.: Lisboa 1836 – 1841)
Discursos
·
Oração Fúnebre de Manuel Fernandes Tomás,
Lisboa, 1822
- Parnaso Lusitano ou Poesias Selectas de Autores Antigos e Modernos, Paris, 1826-1827, 5 v.
- Elogio Fúnebre de Carlos Infante de Lacerda, Barão de Sabrozo, Londres, 1830
- Da formação da segunda Câmara das Côrtes: discursos pronunciados pelo deputado J. B. de Almeida Garrett nas sessões de 9 a 12 de Outubro de 1837, Lisboa, Imprensa Nacional, 1837
- Discurso do Sr. Deputado pela Terceira J. B. de Almeida Garrett na discussão, Lisboa, 1840
- Discussão da Resposta ao Discurso da Coroa, pronunciado na sessão de 8 de Fevereiro de 1840, Lisboa, 1840
- Discurso do Sr. Deputado por Lisboa J. B. de Almeida Garrett, na discussão da Lei da Decima, Lisboa, 1841
- Elogio Histórico do Sócio Barão da Ribeira de Saborosa, Lisboa, 1843
- Parecer da Comissão sobre a Unidade Literária, Lisboa, 1846 (dito Parecer sobre a Neutralidade Literária, da Associação Protectora da Imprensa Portuguesa, assinado por Rodrigo da Fonseca Magalhães, Visconde de Juromenha, Alexandre Herculano e João Baptista de Almeida Garrett)
Obras póstumas
- Política: reflexões e opúsculos, correspondência diplomática. Lisboa, 1904, 2 v.
Participação em publicações periódicas
- Toucador - Periódico sem política, dedicado às senhoras portuguesas. Lisboa, 1822 (direcção e redacção)
- Heraclito e Demócrito. Lisboa, Ano III, 1823 (4 mar.) [nº único]
- Português - Diário político, literário e comercial. Lisboa, 1826 – 1827 (direcção e redacção)
- Cronista - Semanário de política, literatura, ciências e artes. Lisboa, 1827 (direcção e redacção)
- Chaveco Liberal. Londres, 1829 (direcção e redacção); Vol. I, 1 - 17
- Precursor. Londres, 1831
- Português Constitucional. Lisboa, 1836 (direcção e redacção)
- Entreacto: Jornal de Teatros. Lisboa, 1837 (fundação, direcção e redacção)
- Jornal do Conservatório. Lisboa, 1839 - 1840 (fundação, direcção e redacção)
- Jornal das Belas-Artes. Lisboa, 1843 – 1846 (fundação)
- Ilustração - Jornal Universal. Lisboa, 1845 – 1846 (fundação)
Romantismo
O Romantismo foi
um movimento artístico, político e filosófico surgido
nas últimas décadas do século XVIII, na Europa, que durou
por grande parte do século XIX. Caracterizou-se como uma visão de
mundo contrária ao racionalismo e ao iluminismo e
procurou um nacionalismo que viria a consolidar os estados nacionais
na Europa.
Inicialmente
apenas uma atitude, um estado de espírito, o Romantismo toma mais tarde a forma
de um movimento, e o espírito
romântico passa a designar toda uma visão de mundo centrada no indivíduo.
Os autores românticos voltaram-se cada vez mais para si mesmos, retratando o
drama humano, amores trágicos e ideais utópicos. Se o século XVIII foi marcado
pela objetividade, pelo iluminismo e pela razão, o início do
século XIX seria marcado pelo lirismo, pela subjetividade, pela emoção e
pelo eu.
Deste modo,
podemos afirmar que o Romantismo é a arte do sonho e fantasia; valoriza as
forças criativas do indivíduo e da imaginação popular. Esta estética literária
opõe-se à arte equilibrada dos clássicos e baseia-se na inspiração fugaz dos
momentos fortes da vida subjetiva: na fé, no sonho, na paixão, na intuição, na
saudade, no sentimento da natureza e na força das lendas nacionais.
Romantismo em Portugal
O Romantismo teve
como marco inicial a publicação do poema "Camões", de Almeida
Garrett, em 1825, e durou cerca de 40 anos, terminando por volta de 1865 com a Questão Coimbrã.
A primeira geração do romantismo em
Portugal vai de 1825 a 1840. Os seus principais autores são Almeida
Garrett, Alexandre Herculano, António Feliciano de Castilho. A segunda
geração, ultra-romântica, de 1840 a 1860 e tem como principais autores, Camilo Castelo Branco e Soares de
Passos. A terceira geração, pré-realista, de 1860 a 1870,
aproximadamente, teve como principais autores Júlio Dinis e João
de Deus.
Columbano Bordalo Pinheiro
Características do Romantismo
- Arte fundada no instinto, no sentimento.
- Afirma a total liberdade de criação, recusa regras, cria géneros mistos: prosa poética, drama, romance, consegue a libertação da linguagem, que se torna coloquial; mistura níveis de língua; digressões; pontuação expressiva.
- Arte de inspiração cristã; introduz mitologias nacionais.
- Arte que reabilita e celebra a idade Média.
- Apresenta uma natureza triste, escura, dinâmica, tempestuosa, outonal, crepuscular (“locus horrendus”).
- O herói é desequilibrado, impetuoso, insatisfeito, melancólico, revoltado; herói que procura evadir-se no sonho, no tempo e no espaço; herói fatal que traz a perdição a quem o ama; por vezes, suicida.
- Apresenta uma nova visão da mulher: anjo redentor ou demónio que leva à perdição (mulher fatal); quase sempre vítima do herói fatal.
William Turner
William Turner
D. Sebastião
D. Sebastião nasceu em Lisboa, a 20 de janeiro de 1554 e desapareceu/faleceu em Alcácer-Quibir,
a 4 de agosto de 1578.
Apelidado de "o Desejado" e "o Adormecido", foi o Rei de Portugal e Algarves de 1557 até sua morte. Era filho de João Manuel, Príncipe de Portugal, e Joana da Áustria. Ele ascendeu ao
trono aos três anos após a morte de seu avô o rei João III, mas atendendo ao facto de
ser uma criança, o reino passou a ser liderado (governado) primeiro pela sua
avó, a rainha Catarina da Áustria, e depois por seu tio-avô, o cardeal Henrique de Portugal.
D. Sebastião
assumiu a governo aos catorze anos de idade, em 1568, manifestando grande
fervor religioso e militar. Assim, motivado a reviver as glórias da chamada Reconquista, decidiu montar um esforço
militar em Marrocos, planeando uma cruzada.
A derrota na Batalha de
Alcácer-Quibir, em 1578, levou ao
desaparecimento de Sebastião em combate e da nata da nobreza, iniciando a crise dinástica de 1580 que levou à perda da independência
para a Espanha e ao nascimento do mito do Sebastianismo. De 1578 a 1580,
Portugal foi governado pelo Cardeal D. Henrique, mas, depois da morte deste, o
país perdeu a independência que só voltaria a ser recuperada no dia 1 de
dezembro de 1640.
Batalha de Alcácer-Quibir
A Batalha de Alcácer-Quibir, conhecida em Marrocos como Batalha
dos Três Reis, foi uma batalha travada no norte de Marrocos, perto da
cidade de Alcácer-Quibir, entre Tânger e Fez,
em 4 de Agosto de 1578.
Os portugueses, liderados pelo
rei D. Sebastião, aliados ao
exército do sultão Mulei Mohammed combateram um grande exército
marroquino liderado pelo sultão Mulei
Moluco.
No
seu fervor religioso, o rei D. Sebastião planeara uma cruzada após Mulei Mohammed solicitar a sua
ajuda para recuperar o trono que seu tio, Mulei Moluco, havia tomado. A batalha
resultou na derrota portuguesa, com o desaparecimento em combate do rei
D. Sebastião e o aprisionamento ou morte da nata da nobreza portuguesa. Além
do rei português, morreram na batalha os dois sultões rivais, dando origem ao
nome "Batalha dos Três Reis", como ficou conhecida entre os
marroquinos.
A
derrota na batalha de Alcácer-Quibir levou à crise dinástica de 1580 e
ao nascimento do mito do Sebastianismo. O reino de Portugal foi severamente
empobrecido pelos resgates pagos para reaver os cativos.
A batalha ditou o fim da Dinastia
de Avis e do período de expansão iniciado com a vitória na Batalha de
Aljubarrota. A crise dinástica resultou na perda da independência de Portugal
por 60 anos, com a união ibérica sob a dinastia Filipina.
Frei Luis de Sousa, Almeida Garrett
Texto dramático, porque se destina a ser representado. Assim, é constituído pelo texto principal e pelo texto secundário
Texto principal
- Diálogo - forma de discurso que consiste na interação verbal entre duas ou mais personagens, de forma alternada.
- Monólogo - forma de discurso em que uma personagem se dirige a si própria ou a um destinatário ausente ou fictício, exprimindo o seu mundo interior.
- Aparte - forma de discurso em que uma personagem profere um comentário, sem ser ouvida por outra personagem, tendo como destinatários os espectador(es) ou a o(s) leitor(es).
- Didascálias ou indicações cénicas - informações dadas pelo autor relativamente ao espaço, ao tempo, às atitudes, emoções e movimentações das personagens; apresentam uma configuração gráfica específica (geralmente são apresentadas entre parênteses e em itálico)
Ao nível da estrutura externa, a obra Frei Luís de Sousa
encontra-se escrita em prosa e divide-se em três atos (a mudança de ato é
marcada pela mudança de espaço/cenário), subdivididos em cenas (a mudança de
cena é marcada pela entrada ou saída de palco de uma ou mais personagens).
Quanto à
estrutura interna, este texto dramático encontra-se organizado em três
momentos: exposição, conflito e
desenlace.
Exposição
Ato I, Cenas I a IV
|
·
Antecedentes da
ação – passado das personagens:
- Casamento
de D. Madalena de Vilhena com D. João de Portugal;
- Desaparecimento
de D. João de Portugal na Batalha de Alcácer Quibir;
- Casamento
de D. Madalena com D.Manuel de Sousa Coutinho;
-Nascimento
de Maria.
|
Conflito
Ato I, Cenas V A XII
Ato II, Cenas I a XV
Ato III, Cenas I a VIII
|
·
Decisão dos
governadores de se mudarem para o palácio de D.Manuel de Sousa Coutinho.
·
Incêndio do
palácio, por D. Manuel de Sousa Coutinho.
·
Mudança para o
palácio de D. João de Portugal.
·
Ida de D.Manuel
de Sousa Coutinho e de Maria a Lisboa.
·
Chegada de D.
João de Portugal, na figura do Romeiro.
·
Reconhecimento
de D. João de Portugal.
·
Decisão de
ingressar na vida religiosa, por D.Manuel e D. Madalena.
|
Desenlace
Ato III, Cenas IX a XII
|
· Início da cerimónia da tomada de hábito por D.Manuel
e D. Madalena.
· Morte de Maria.
|
Caracterização das personagens de Frei Luís de Sousa
D.
Madalena de Vilhena é uma personagem
psicologicamente afetada e que vive marcada por conflitos interiores pelo
desaparecimento do primeiro marido e não consegue viver o presente devido a
esse “fantasma”. Os sentimentos e a sensibilidade sobrepõe-se à razão e é uma
mulher em constante sofrimento. Crê em agoiros, superstições, dias fatais (a
sexta-feira) e Deus, pois este é referido em muitas falas dela. É uma sofredora
e tem um amor intenso e uma preocupação constante com a sua filha Maria, contudo
o mais importante para ela é a sua felicidade e amor ao lado de Manuel de
Sousa pois até o seu amor à pátria é menor do que o que sente por Manuel. É
muito influenciada por Manuel de Sousa, sendo evidenciado no final da obra,
pois esta aceita o convento como solução mas fá-lo seguindo Manuel. Esta personagem relaciona-se conjugalmente com outras duas de uma
forma legal e de compromisso com D. João de Portugal, por outro lado a sua
relação com Manuel de Sousa Coutinho é amorosa e por sua vez ilegal. Tem uma
relação afetiva com Telmo e Maria, sendo Telmo um aio e Maria sua filha, mas ao
contrário do que se possa pensar Maria assume um papel adulto em relação à mãe
devido ao estado mental de Madalena.
Maria
de Noronha é uma
personagem fisicamente frágil e fraca. Também apresenta um carater puramente
inocente e angelical e sendo psicologicamente muito forte. Maria tem uma
relação muito forte com Telmo devido à sua crença no regresso de D. Sebastião.
É uma personagem nobre, de inteligência
precoce, muito culta, intuitiva e perspicaz. Também é muito curiosa pois
aparenta querer saber de tudo, e uma romântica: é nacionalista, idealista,
sonhadora, fantasiosa, patriota, crente em agoiros e uma sebastianista.
É a vítima inocente de toda a situação e
acaba por morrer fisicamente, tocada pela vergonha de se sentir filha ilegítima
(morre tuberculosa).
Manuel
de Sousa Coutinho é um nobre e honrado
fidalgo que se orienta por valores universais como a honra, a lealdade, a
liberdade, é um patriota, forte, corajoso, e decido, mas não crê em agoiros. Contudo, esta personagem evolui de uma atitude interior de força e
de coragem e segurança para um comportamento de medo, de dor, sofrimento, insegurança
e piedosa mentira no ato III quando teme pela saúde da filha e pela sua
condição social. Os seus sentimentos
são muitas vezes sobrepostos à razão; normalmente deve-se á sua preocupação com
doença da sua filha. Manuel de Sousa é um bom pai e um bom marido, pois ao
longo do texto demonstra muita preocupação para com estas personagens. Este tem
uma grande preocupação com a sua mulher e a sua filha e demonstra que é um
homem de valores. No final da obra demonstra-se decido como noutros momentos,
com o facto de abandonar tudo (bens, vida) para se refugiar no convento.
É de referir que Manuel de Sousa não sente
ciúmes pelo passado de Madalena e considera-o um honrado fidalgo e um valente
cavaleiro.
A sua relação com Telmo é muito afastada,
visto que, Telmo é um serviçal normal e não existe nenhuma intimidade, Telmo
atreve-se a dizer coisas a Madalena que não diz a Manuel de Sousa.
Telmo é um criado
caracterizado como extremamente leal ao seu primeiro amo, D. João de Portugal,
e acredita piamente no seu regresso. Telmo é um velho aio que não é nobre
apesar da sua convivência lhe dar todas as características de um nobre
(postura, fala, educação, cultura...). Não consegue perdoar Madalena pela
infelicidade a D. João e mostra o maior desprezo por Manuel, apesar de ser o
confidente de Madalena e Maria. Telmo é Fiel, dedicado e é a ligação entre as
duas famílias (os dois maridos de Madalena) e a chama viva do passado que
alimenta os terrores de Madalena. Ao contrário de todos estes sentimentos o que
nutre pela sua segunda ama é de muito amor, esta contrariada de sentimentos e
emoções são difíceis de digerir até pelo próprio Telmo.
Esta personagem é muito crítica, cria
juízos de valor e é através dele que a consciência das personagens é
fragmentada, este vive num profundo conflito interior pois sente-se dividido
entre João e Maria, não sabendo o que fazer.
O
romeiro/D. João de Portugal é um nobre cavaleiro, que está ausente
fisicamente durante o I e II ato da peça. Contudo, está sempre presente na
memória, palavras e nas esperanças de Telmo que paira sobre aquela família, na
consciência (sombra das angustias) de Madalena, nas palavras de Manuel e na
intuição de Maria.
D. João é caracterizado direta e indiretamente,
esta caracterização é tanto física como psicológica.
É sempre lembrado como patriota, digno,
honrado, forte, fiel ao seu rei; quando regressa, na pele do Romeiro é austero e
misterioso, representa um destino cruel, é implacável, destrói uma família e a
sua felicidade, mas acaba por ser, também ele, vítima desse destino. Resta-lhe
então a solidão, o vazio e a certeza de que ele já só faz parte do mundo dos
mortos (é “ninguém”; madalena não o reconhece; Telmo preferia que ele não
tivesse voltado pois Maria ocupou o seu lugar no coração do velho escudeiro).
D. João é uma figura simbólica: representa
o passado, a época gloriosa dos descobrimentos; representa também o presente, a
pátria morta e sem identidade na mão dos espanhóis, é também a imagem da pátria
cativa.
Frei
George é uma
personagem tipo e apenas tem a função de mostrar o que a igreja deveria de
assumir. Frei George é irmão de Manuel de Sousa, representa a autoridade de
Igreja. É também confidente de Madalena, pois é a ele que ela confessa o seu
“Terrível” pecado: amou Manuel de Sousa ainda D. João era vivo. É uma figura
moderadora, que procura harmonizar o conflito e modera os sentimentos trágicos.
Acompanha sempre a família, é conciliador, pacificador e impõe uma certa
racionalidade, procurando manter o equilíbrio no meio de uma família angustiada
e desfeita.
Recorte das personagens
principais
D. Madalena
de Vilhena
|
·
Pertencente à
nobreza, casada com D. João de Portugal (1ºcasamento) e com D.Manuel de Sousa
Coutinho (2ºcasamento).
·
Sentimental, pecadora
(apaixonou-se por D.Manuel quando ainda estava casada com D. João de
Portugal), atormentada pelo passado, com pressentimentos.
·
Ligada à lenda
dos amores infelizes de Inês de Castro.
|
D.Manuel de
Sousa Coutinho
|
·
Pertencente à
nobreza (cavaleiro de Malta), casado com D. Madalena.
·
Racional,
sensível, corajoso, decidido, patriota, honrado, desapegado de bens materiais
e da própria vida.
·
Encarna o amor
à Pátria e liberdade e o mito do escritor romântico.
|
Maria
|
·
De origem
nobre, filha de D.Manuel e de D. Madalena, com 13 anos.
·
Bela, frágil
(doente de tuberculose), perspicaz, inteligente, meiga, bondosa, com o dom da
intuição e da profecia.
·
Ligada ao culto
de Camões e de D. Sebastião.
|
Telmo
|
·
Escudeiro,
servidor das famílias de D. João de Portugal (passado) e de D.Manuel de Sousa
(presente).
·
Confidente de
D. Madalena, mas crítico do seu comportamento.
·
Protetor de
Maria.
|
D. João de Portugal
|
·
Pertencente à
nobreza (cavaleiro), casado com D. Madalena de Vilhena.
·
Patriota,
austero, mas cavalheiresco, íntegro.
·
Reduzido ao anonimato.
·
Ligado à lenda
de D. Sebastião, símbolo da Pátria humilhada e cativa.
|