quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Módulo 12
Competências visadas
Competências transversais
De Comunicação: componentes linguística, discursiva/textual, sociolinguística, estratégica Estratégica: estratégias de leitura e de escuta adequadas ao tipo de texto e à finalidade; operações de planificação, execução e avaliação de textos orais e escritos; utilização das TIC; utilização de técnicas de pesquisa em vários suportes; tomada de notas; mobilização de saberes adquiridos e recurso a instrumentos de análise já utilizados; elaboração de ficheiros; utilização das TIC
Formação para a cidadania: reconhecimento da importância da herança cultural do passado na construção do presente; rejeição de atitudes discriminatórias; avaliação crítica e autónoma de ideias, comportamentos e situações; assunção de valores da democracia, da liberdade e da responsabilidade como valores consensuais a defender
Competências nucleares
Conteúdos
Leitura
Leitura literária
Textos informativos diversos
Memorial do Convento, de José Saramago
Compreensão Oral
Entrevistas do autor
Documentários
Expressão Oral
Exposição
Debate
Expressão Escrita
Dissertação
Funcionamento da Língua
Previsível
Texto
Tipologia textual
Potencial
Consolidação dos conteúdos dos módulos anteriores
Objetivos de Aprendizagem
▪ Distinguir a matriz discursiva de vários tipos de texto
▪ Adequar o discurso à situação comunicativa
▪ Distinguir factos de sentimentos e opiniões
▪ Reconhecer a dimensão estética da língua
▪ Contactar com autores do património cultural português
▪ Programar a produção da escrita e da oralidade observando as fases de planificação, execução, avaliação
▪ Produzir textos de diferentes matrizes discursivas
▪ Refletir sobre o funcionamento da língua
▪ Interagir com o universo temporal recriado pelo texto
▪ Confrontar as coordenadas sociais, históricas e ideológicas de épocas distintas
▪ Interagir de forma crítica e criativa com o universo ficcional
▪ Refletir sobre as relações intertextuais, através do confronto dos universos de referência das obras analisadas ao longo dos módulos



José de Sousa Saramago


José de Sousa Saramago, escritor português, nasceu em Azinhaga, Golegã, no dia 16 de novembro de 1922, e faleceu em Tías, Lanzarote, a 18 de junho de 2010.
Oriundo de uma família de pais e avós agricultores, passou, no entanto, grande parte em Lisboa, para onde a família se mudou em 1924, quando ele tinha apenas dois anos de idade. Demonstrou desde cedo interesse pelos estudos e pela cultura, sendo que esta curiosidade perante o Mundo o acompanhou até à morte.
Dificuldades económicas impediram-no de fazer os estudos liceais, que o levariam a frequentar a universidade. Formou-se numa escola técnica e teve o seu primeiro emprego como serralheiro mecânico. Fascinado pelos livros, visitava, à noite, com grande frequência, a Biblioteca Municipal Central/Palácio Galveias.

Percurso profissional e literário

Aos 25 anos, publicou o primeiro romance Terra do Pecado (1947), no mesmo ano de nascimento da sua filha, Violante dos Reis Saramago, fruto do primeiro casamento com Ilda Reis – com quem se casou em 1944 e com quem permaneceu até 1970. Nessa época, Saramago era funcionário público. Viveu, entre 1970 e 1986 com a escritora Isabel da Nóbrega. Em 1988, casar-se-ia com a jornalista e tradutora espanhola María del Pilar del Río Sánchez, que conheceu em 1986 e ao lado da qual viveu até à morte. Em 1955 e para aumentar os rendimentos, começou a fazer traduções de Hegel, Tolstói e Baudelaire, entre outros.

Depois de Terra do Pecado, Saramago apresentou ao seu editor o livro Clarabóia que, depois de rejeitado, permaneceu inédito até 2011. Persiste, contudo, nos esforços literários e, 19 anos depois, funcionário, então, da Editorial Estudos Cor, troca a prosa pela poesia, lançando Os Poemas Possíveis. Num espaço de cinco anos, publica, sem alarde, mais dois livros de poesia: Provavelmente Alegria (1970) e O Ano de 1993 (1975). É quando troca também de emprego, abandonando a Estudos Cor para trabalhar no Diário de Notícias (DN) e, depois, no Diário de Lisboa. Em 1975, retorna ao DN como Diretor-Adjunto, onde permanece por dez meses, até 25 de Novembro do mesmo ano, quando os militares portugueses intervêm na publicação (reagindo ao que consideravam os excessos da Revolução dos Cravos) demitindo vários funcionários. Demitido, Saramago resolve dedicar-se apenas à literatura, substituindo de vez o jornalista pelo ficcionista: "(…) Estava à espera de que as pedras do puzzle do destino – supondo-se que haja destino, não creio que haja – se organizassem. É preciso que cada um de nós ponha a sua própria pedra, e a que eu pus foi esta: "Não vou procurar trabalho", disse Saramago em entrevista à revista Playboy, em 1995.

Da experiência vivida nos jornais, restaram as crónicas: Deste Mundo e do Outro, 1971, A Bagagem do Viajante, 1973, As Opiniões que o DL Teve, 1974 e Os Apontamentos, 1976. Mas não são as crónicas, nem os contos, nem o teatro os responsáveis por fazer de Saramago um dos autores portugueses de maior destaque – esta missão está reservada aos seus romances, género a que retorna em 1977.
Três décadas depois de publicado Terra do Pecado, Saramago retornou ao mundo da prosa ficcional com Manual de Pintura e Caligrafia. Mas ainda não foi aí que o autor definiu o seu estilo. As marcas características do estilo "saramaguiano" só apareceriam com Levantado do Chão (1980), livro no qual o autor retrata a vida de privações da população pobre do Alentejo.

Dois anos depois de Levantado do Chão, surge o romance Memorial do Convento (1982), livro que conquista definitivamente a atenção de leitores e críticos. Nele, Saramago misturou factos reais com personagens inventados: o rei D. João V e Bartolomeu de Gusmão, com a misteriosa Blimunda e o operário Baltazar, por exemplo. O contraste entre a opulenta aristocracia ociosa e o povo trabalhador e construtor da história servem de metáfora à medida da luta de classes marxista. A crítica brutal a uma Igreja ao serviço dos opressores inicia a exposição de uma tentativa de destruição do fenómeno religioso como devaneio humano construtor de guerras.





   






Memorial de Convento
Linhas de ação
Título
Memorial
 .Escrito em que se regista o que se pretende guardar na memória.
.Obra escrita que relata factos ou feitos memoráveis.
Do Convento

Construção do convento de Mafra
.Rei D. João V e Corte

Relacionada com a promessa do rei e com o espaço social, político e económico da corte (universo dos dominantes).

.Construção do convento

Relacionada com os homens do povo que constroem o convento, num esforço épico (universo dos dominados).

.Baltasar e Blimunda

Centrada na história de amor de Baltasar e Blimunda.

.Padre Bartolomeu de Gusmão.

Relacionada com construção da uma máquina voadora por Bartolomeu, Blimunda e Baltasar.



Prémio Nobel

Prêmio Nobel é um conjunto de prémios internacionais anuais concedidos, em várias categorias por comitês suecos e noruegueses, em reconhecimento aos avanços culturais e/ou científicos.
A vontade do inventor sueco Alfred Nobel estabeleceu os prémios em 1895. Os prêmios de Física, Química, Fisiologia ou Medicina, Literatura e Paz foram concedidos pela primeira vez em 1901. O Prémio de Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel foi criado em 1968, financiado pelo Banco Central da Suécia. Entre 1901 e 2012, os prémios Nobel foram laureados 555 vezes a 856 pessoas e organizações. Com os poucos que receberem mais de uma vez o Prêmio, o total vai para 835 indivíduos (791 homens e 44 mulheres) e 21 organizações.
O Prémio Nobel é amplamente considerado como o mais prestigioso prêmio disponível nos campos da literatura, medicina, física, química e paz.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Pr%C3%A9mio_Nobel






O discurso perante a real academia sueca






De como a Personagem Foi Mestre e o Autor Seu Aprendiz

O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever. Às quatro da madrugada, quando a promessa de um novo dia ainda vinha em terras de França, levantava-se da enxerga e saía para o campo, levando ao pasto a meia dúzia de porcas de cuja fertilidade se alimentavam ele e a mulher. Viviam desta escassez os meus avós maternos, da pequena criação de porcos que, depois do desmame, eram vendidos aos vizinhos da aldeia. Azinhaga de seu nome, na província do Ribatejo. Chamavam-se Jerónimo Melrinho e Josefa Caixinha esses avós, e eram analfabetos um e outro. No Inverno, quando o frio da noite apertava ao ponto de a água dos cântaros gelar dentro da casa, iam buscar às pocilgas os bácoros mais débeis e levavam-nos para a sua cama. Debaixo das mantas grosseiras, o calor dos humanos livrava os animaizinhos do enregelamento e salvava-os de uma morte certa. Ainda que fossem gente de bom carácter, não era por primores de alma compassiva que os dois velhos assim procediam: o que os preocupava, sem sentimentalismos nem retóricas, era proteger o seu ganha-pão, com a naturalidade de quem, para manter a vida, não aprendeu a pensar mais do que o indispensável. Ajudei muitas vezes este meu avô Jerónimo nas suas andanças de pastor, cavei muitas vezes a terra do quintal anexo à casa e cortei lenha para o lume, muitas vezes, dando voltas e voltas à grande roda de ferro que accionava a bomba, fiz subir a água do poço comunitário e a transportei ao ombro, muitas vezes, às escondidas dos guardas das searas, fui com a minha avó, também pela madrugada, munidos de ancinho, panal e corda, a recolher nos restolhos a palha solta que depois haveria de servir para a cama do gado. E algumas vezes, em noites quentes de Verão, depois da ceia, meu avô me disse: "José, hoje vamos dormir os dois debaixo da figueira". Havia outras duas figueiras, mas aquela, certamente por ser a maior, por ser a mais antiga, por ser a de sempre, era, para toda as pessoas da casa, a figueira. Mais ou menos por antonomásia, palavra erudita que só muitos anos depois viria a conhecer e a saber o que significava... No meio da paz nocturna, entre os ramos altos da árvore, uma estrela aparecia-me, e depois, lentamente, escondia-se por trás de uma folha, e, olhando eu noutra direcção, tal como um rio correndo em silêncio pelo céu côncavo, surgia a claridade opalescente da Via Láctea, o Caminho de Santiago, como ainda lhe chamávamos na aldeia. Enquanto o sono não chegava, a noite povoava-se com as histórias e os casos que o meu avô ia contando: lendas, aparições, assombros, episódios singulares, mortes antigas, zaragatas de pau e pedra, palavras de antepassados, um incansável rumor de memórias que me mantinha desperto, ao mesmo tempo que suavemente me acalentava. Nunca pude saber se ele se calava quando se apercebia de que eu tinha adormecido, ou se continuava a falar para não deixar em meio a resposta à pergunta que invariavelmente lhe fazia nas pausas mais demoradas que ele calculadamente metia no relato: "E depois?". Talvez repetisse as histórias para si próprio, quer fosse para não as esquecer, quer fosse para as enriquecer com peripécias novas. Naquela idade minha e naquele tempo de nós todos, nem será preciso dizer que eu imaginava que o meu avô Jerónimo era senhor de toda a ciência do mundo. Quando, à primeira luz da manhã, o canto dos pássaros me despertava, ele já não estava ali, tinha saído para o campo com os seus animais, deixando-me a dormir. Então levantava-me, dobrava a manta e, descalço (na aldeia andei sempre descalço até aos 14 anos), ainda com palhas agarradas ao cabelo, passava da parte cultivada do quintal para a outra onde se encontravam as pocilgas, ao lado da casa. Minha avó, já a pé antes do meu avô, punha-me na frente uma grande tigela de café com pedaços de pão e perguntava-me se tinha dormido bem. Se eu lhe contava algum mau sonho nascido das histórias do avô, ela sempre me tranquilizava: "Não faças caso, em sonhos não há firmeza". Pensava então que a minha avó, embora fosse também uma mulher muito sábia, não alcançava as alturas do meu avô, esse que, deitado debaixo da figueira, tendo ao lado o neto José, era capaz de pôr o universo em movimento apenas com duas palavras. Foi só muitos anos depois, quando o meu avô já se tinha ido deste mundo e eu era um homem feito, que vim a compreender que a avó, afinal, também acreditava em sonhos. Outra coisa não poderia significar que, estando ela sentada, uma noite, à porta da sua pobre casa, onde então vivia sozinha, a olhar as estrelas maiores e menores por cima da sua cabeça, tivesse dito estas palavras: "O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer". Não disse medo de morrer, disse pena de morrer, como se a vida de pesado e contínuo trabalho que tinha sido a sua estivesse, naquele momento quase final, a receber a graça de uma suprema e derradeira despedida, a consolação da beleza revelada. Estava sentada à porta de uma casa como não creio que tenha havido alguma outra no mundo porque nela viveu gente capaz de dormir com porcos como se fossem os seus próprias filhos, gente que tinha pena de ir-se da vida só porque o mundo era bonito, gente, e este foi o meu avô Jerónimo, pastor e contador de histórias, que, ao pressentir que a morte o vinha buscar, foi despedir-se das árvores do seu quintal, uma por uma, abraçando-se a elas e chorando porque sabia que não as tornaria a ver.

Muitos anos depois, escrevendo pela primeira vez sobre este meu avô Jerónimo e esta minha avó Josefa (faltou-me dizer que ela tinha sido, não dizer de quantos a conheceram quando rapariga, de uma formosura invulgar), tive consciência de que estava a transformar as pessoas comuns que eles haviam sido em personagens literárias e que essa era, provavelmente, a maneira de não os esquecer, desenhando e tornando a desenhar os seus rostos com o lápis sempre cambiante da recordação, colorindo e iluminando a monotonia de um quotidiano baço e sem horizontes, como quem vai recriando, por cima do instável mapa da memória, a irrealidade sobrenatural do país em que decidiu passar a viver. A mesma atitude de espírito que, depois de haver evocado a fascinante e enigmática figura de um certo bisavô berbere, me levaria a descrever mais ou menos nestes termos um velho retrato (hoje já com quase oitenta anos) onde os meus pais aparecem: "Estão os dois de pé, belos e jovens, de frente para o fotógrafo, mostrando no rosto uma expressão de solene gravidade que é talvez temor diante da câmara, no instante em que a objectiva vai fixar, de um e de outro, a imagem que nunca mais tornarão a ter, porque o dia seguinte será implacavelmente outro dia... Minha mãe apoia o cotovelo direito numa alta coluna e segura na mão esquerda, caída ao longo do corpo, uma flor. Meu pai passa o braço por trás das costas de minha mãe e a sua mão calosa aparece sobre o ombro dela como uma asa. Ambos pisam acanhados um tapete de ramagens. A tela que serve de fundo postiço ao retrato mostra umas difusas e incongruentes arquiteturas neoclássicas". E terminava: "Um dia tinha de chegar em que contaria estas coisas. Nada disto tem importância, a não ser para mim. Um avô berbere, vindo do Norte de África, um outro avô pastor de porcos, uma avó maravilhosamente bela, uns pais graves e formosos, uma flor num retrato - que outra genealogia pode importar-me? a que melhor árvore me encontraria?"
Escrevi estas palavras há quase trinta anos, sem outra intenção que não fosse reconstituir e registar instantes da vida das pessoas que me geraram e que mais perto de mim estiveram, pensando que nada mais precisaria de explicar para que se soubesse de onde venho e de que materiais se fez a pessoa que comecei por ser e esta em que pouco a pouco me vim tornando. Afinal, estava enganado, a biologia não determina tudo, e, quanto à genética, muito misteriosos deverão ter sido os seus caminhos para terem dado uma volta tão larga... À minha árvore genealógica (perdôe-se-me a presunção de a designar assim, sendo tão minguada a substância da sua seiva) não faltavam apenas alguns daqueles ramos que o tempo e os sucessivos encontros da vida vão fazendo romper do tronco central, também lhe faltava quem ajudasse as suas raízes a penetrar até às camadas subterrâneas mais fundas, quem apurasse a consistência e o sabor dos seus frutos, quem ampliasse e robustecesse a sua copa para fazer dela abrigo de aves migrantes e amparo de ninhos. Ao pintar os meus pais e os meus avós com tintas de literatura, transformando-os, de simples pessoas de carne e osso que haviam sido, em personagens novamente e de outro modo construtoras da minha vida, estava, sem o perceber, a traçar o caminho por onde as personagens que viesse a inventar, as outras, as efetivamente literárias, iriam fabricar e trazer-me os materiais e as ferramentas que, finalmente, no bom e no menos bom, no bastante e no insuficiente, no ganho e no perdido, naquilo que é defeito mas também naquilo que é excesso, acabariam por fazer de mim a pessoa em que hoje me reconheço: criador dessas personagens, mas, ao mesmo tempo, criatura delas. Em certo sentido poder-se-á mesmo dizer que, letra a letra, palavra a palavra, página a página, livro a livro, tenho vindo, sucessivamente, a implantar no homem que fui as personagens que criei. Creio que, sem elas, não seria a pessoa que hoje sou, sem elas talvez a minha vida não tivesse logrado ser mais do que um esboço impreciso, uma promessa como tantas outras que de promessa não conseguiram passar, a existência de alguém que talvez pudesse ter sido e afinal não tinha chegado a ser.

Agora sou capaz de ver com clareza quem foram os meus mestres de vida, os que mais intensamente me ensinaram o duro ofício de viver, essas dezenas de personagens de romance e de teatro que neste momento vejo desfilar diante dos meus olhos, esses homens e essas mulheres feitos de papel e tinta, essa gente que eu acreditava ir guiando de acordo com as minhas conveniências de narrador e obedecendo à minha vontade de autor, como títeres articulados cujas acções não pudessem ter mais efeito em mim que o peso suportado e a tensão dos fios com que os movia. Desses mestres, o primeiro foi, sem dúvida, um medíocre pintor de retratos que designei simplesmente pela letra H., protagonista de uma história a que creio razoável chamar de dupla iniciação (a dele, mas também, de algum modo, do autor do livro), intitulada Manual de Pintura e Caligrafia, que me ensinou a honradez elementar de reconhecer e acatar, sem ressentimento nem frustração, os meus próprios limites: não podendo nem ambicionando aventurar-me para além do meu pequeno terreno de cultivo, restava-me a possibilidade de escavar para o fundo, para baixo, na direcção das raízes. As minhas, mas também as do mundo, se podia permitir-me uma ambição tão desmedida. Não me compete a mim, claro está, avaliar o mérito do resultado dos esforços feitos, mas creio ser hoje patente que todo o meu trabalho, de aí para diante, obedeceu a esse propósito e a esse princípio.

Vieram depois os homens e as mulheres do Alentejo, aquela mesma irmandade de condenados da terra a que pertenceram o meu avô Jerónimo e a minha avó Josefa, camponeses rudes obrigados a alugar a força dos braços a troco de um salário e de condições de trabalho que só mereceriam o nome de infames, cobrando por menos que nada a vida a que os seres cultos e civilizados que nos prezamos de ser apreciamos chamar, segundo as ocasiões, preciosa, sagrada ou sublime. Gente popular que conheci, enganada por uma Igreja tão cúmplice como beneficiária do poder do Estado e dos terratenentes latifundistas, gente permanentemente vigiada pela policia, gente, quantas e quantas vezes, vítima inocente das arbitrariedades de uma justiça falsa. Três gerações de uma família de camponeses, os Mau-Tempo, desde o começo do século até a Revolução de Abril de 1974 que derrubou a ditadura, passam nesse romance a que dei o título de Levantado do Chão, e foi com tais homens e mulheres do chão levantados, pessoas reais primeiro, figuras de ficção depois, que aprendi a ser paciente, a confiar e a entregar-me ao tempo, a esse tempo que simultaneamente nos vai construindo e destruindo para de novo nos construir e outra vez nos destruir. Só não tenho a certeza de haver assimilado de maneira satisfatória aquilo que a dureza das experiências tornou virtude nessas mulheres e nesses homens: uma atitude naturalmente estóica perante a vida. Tendo em conta, porém, que a lição recebida, passados mais de vinte anos, ainda permanece intacta na minha memória, que todos os dias a sinto presente no meu espírito como uma insistente convocatória, não perdi, até agora, a esperança de me vir a tornar um pouco mais merecedor da grandeza dos exemplos de dignidade que me foram propostos na imensidão das planícies do Alentejo. O tempo o dirá.

Que outras lições poderia eu receber de um português que viveu no século XVI que compôs as Rimas e as glórias, os naufrágios e os desencantos pátrios de Os Lusíadas, que foi um génio poético absoluto, o maior da nossa literatura, por muito que isso pese a Fernando Pessoa, que a si mesmo se proclamou como o Super-Camões dela? Nenhuma lição que estivesse à minha medida, nenhuma lição que eu fosse capaz de aprender, salvo a mais simples que me poderia ser oferecida pelo homem Luís Vaz de Camões na sua estreme humanidade, por exemplo, a humildade orgulhosa de um autor que vai chamando a todas as portas à procura de quem esteja disposto a publicar-lhe o livro que escreveu, sofrendo por isso o desprezo dos ignorantes de sangue e de casta, a indiferença desdenhosa de um rei e da sua companhia de poderosos, o escárnio com que desde sempre o mundo tem recebido a visita dos poetas, dos visionários e dos loucos. Ao menos uma vez na vida todos os autores tiveram ou terão de ser Luís de Camões, mesmo se não escreverem as redondilhas de "Sôbolos rios"... Entre fidalgos da corte e censores do Santo Ofício, entre os amores de antanho e as desilusões da velhice prematura, entre a dor de escrever e a alegria de ter escrito, foi a este homem doente que regressa pobre da Índia, aonde muitos só iam para enriquecer, foi a este soldado cego de um olho e golpeado na alma, foi a este sedutor sem fortuna que não voltará nunca mais a perturbar os sentidos das damas do paço, que eu pus a viver no palco da peça teatro chamada Que farei com este livro?, em cujo final ecoa uma outra pergunta, aquela que importa verdadeiramente, aquela que nunca saberemos se alguma vez chegará a ter resposta suficiente: "Que fareis com este livro?". Humildade orgulhosa, foi essa de levar debaixo do braço uma obra-prima e ver-se injustamente enjeitado pelo mundo. Humildade orgulhosa também, e obstinada, esta de querer saber para que irão servir amanhã os livros que andamos a escrever hoje, e logo duvidar que consigam perdurar longamente (até quando?) as razões tranquilizadoras que acaso nos estejam a ser dadas ou que estejamos a dar a nós próprios. Ninguém melhor se engana que quando consente que o enganem os outros...

Aproximam-se agora um homem que deixou a mão esquerda na guerra e uma mulher que veio ao mundo com o misterioso poder de ver o que há por trás da pele das pessoas. Ele chama-se Baltasar Mateus e tem a alcunha de Sete-Sóis, a ela conhecem-na pelo nome de Blimunda, e também pelo apodo de Sete-Luas que lhe foi acrescentado depois, porque está escrito que onde haja um sol terá de haver uma lua, e que só a presença conjunta e harmoniosa de um e do outro tornará habitável, pelo amor, a terra. Aproxima-se também um padre jesuíta chamado Bartolomeu que inventou uma máquina capaz de subir ao céu e voar sem outro combustível que não seja a vontade humana, essa que, segundo se vem dizendo, tudo pode, mas que não pôde, ou não soube, ou não quis, até hoje, ser o sol e a lua da simples bondade ou do ainda mais simples respeito. São três loucos portugueses do século XVIII, num tempo e num país onde floresceram as superstições e as fogueiras da Inquisição, onde a vaidade e a megalomania de um rei fizeram erguer um convento, um palácio e uma basílica que haveriam de assombrar o mundo exterior, no caso pouco provável de esse mundo ter olhos bastantes para ver Portugal, tal como sabemos que os tinha Blimunda para ver o que escondido estava... E também se aproxima uma multidão de milhares e milhares de homens com as mãos sujas e calosas, com o corpo exausto de haver levantado, durante anos a fio, pedra a pedra, os muros implacáveis do convento, as salas enormes do palácio, as colunas e as pilastras, as aéreas torres sineiras, a cúpula da basílica suspensa sobre o vazio. Os sons que estamos a ouvir são do cravo de Domenico Scarlatti, que não sabe se deve rir ou chorar... Esta é a história de Memorial do Convento, um livro em que o aprendiz de autor, graças ao que lhe vinha sendo ensinado desde o antigo tempo dos seus avós Jerónimo e Josefa, já conseguiu escrever palavras como estas, donde não está ausente alguma poesia: "Além da conversa das mulheres, são os sonhos que seguram o mundo na sua órbita. Mas são também os sonhos que lhe fazem uma coroa de luas, por isso o céu é o resplendor que há dentro da cabeça dos homens, se não é a cabeça dos homens o próprio e único céu". Que assim seja.

De lições de poesia sabia já alguma coisa o adolescente, aprendidas nos seus livros de texto quando, numa escola de ensino profissional de Lisboa, andava a preparar-se para o ofício que exerceu no começo da sua vida de trabalho: o de serralheiro mecânico. Teve também bons mestres de arte poética nas longas horas nocturnas que passou em bibliotecas públicas, lendo ao acaso de encontros e de catálogos, sem orientação, sem alguém que o aconselhasse com o mesmo assombro criador do navegante que vai inventando cada lugar que descobre. Mas foi na biblioteca da escola industrial que O Ano da Morte de Ricardo Reis começou a ser escrito... Ali encontrou um dia o jovem aprendiz de serralheiro (teria então 17 anos) uma revista - "Atena" era o título - em que havia poemas assinados com aquele nome e, naturalmente, sendo tão mau conhecedor da cartografia literária do seu país pensou que existia em Portugal um poeta que se chamava assim: Ricardo Reis. Não tardou muito tempo, porém, a saber que o poeta propriamente dito tinha sido um tal Fernando Nogueira Pessoa que assinava poemas com nomes de poetas inexistentes nascidos na sua cabeça e a que chamava heterónimos, palavra que não constava dos dicionários da época, por isso custou tanto trabalho ao aprendiz de letras saber o que ela significava. Aprendeu de cor muitos poemas de Ricardo Reis ("Para ser grande sê inteiro/Põe quanto és no mínimo que fazes"), mas não podia resignar-se, apesar de tão novo e ignorante, que um espírito superior tivesse podido conceber, sem remorso este verso cruel: "Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo". Muito, muito tempo depois, o aprendiz, já de cabelos brancos e um pouco mais sábio das suas próprias sabedorias, atreveu-se a escrever um romance para mostrar ao poeta das "Odes" alguma coisa do que era o espetáculo do mundo nesse ano de 1936 em que o tinha posto a viver os seus últimos dias: a ocupação da Renânia pelo exército nazista, a guerra de Franco contra a República espanhola, a criação por Salazar das milícias fascistas portuguesas. Foi como se estivesse a dizer-lhe: "Eis o espetáculo do mundo, meu poeta das amarguras serenas e do ceticismo elegante. Disfruta, goza, contempla, já que estar sentado é a tua sabedoria..."

O Ano da Morte de Ricardo Reis terminava com umas palavras melancólicas: "Aqui, onde o mar se acabou e a terra espera". Portanto, não haveria mais descobrimentos para Portugal, apenas como destino uma espera infinita de futuros nem aos menos inimagináveis: só o fado do costume, a saudade de sempre, e pouco mais... Foi então que o aprendiz imaginou que talvez houvesse ainda uma maneira de tornar a lançar os barcos à água, por exemplo, mover a própria terra e pô-la a navegar pelo mar fora. Fruto imediato do ressentimento colectivo português pelos desdéns históricos de Europa (mais exacto seria dizer fruto de um meu ressentimento pessoal...), o romance que então escrevi - Jangada de Pedra- separou do continente europeu toda a Península Ibérica para a transformar numa grande ilha flutuante, movendo-se sem remos, nem velas, nem hélices em direcção ao Sul do mundo, "massa de pedra e terra, coberta de cidades, aldeias, rios, bosques, fábricas, matos bravios, campos cultivados, com a sua gente e os seus animais", a caminho de uma utopia nova: o encontro cultural dos povos peninsulares com os povos do outro lado do Atlântico, desafiando assim, a tanto a minha estratégia se atreveu, o domínio sufocante que os Estados Unidos da América do Norte vêm exercendo naquelas paragens... Uma visão duas vezes utópica entenderia esta ficção política como uma metáfora muito mais géneros e humana: que a Europa, toda ela, deverá deslocar-se para o Sul, a fim de, em desconto dos seus abusos colonialistas antigos e modernos, ajudar a equilibrar o mundo. Isto é, Europa finalmente como ética. As personagens da Jangada de Pedra- duas mulheres , três homens e um cão - viajam incansavelmente através da península enquanto ela vai sulcando o oceano. O mundo está a mudar e eles sabem que devem procurar em si mesmos as pessoas novas em que irão tornar-se (sem esquecer o cão, que não é um cão como os outros...). Isso lhes basta.

Lembrou-se então o aprendiz de que em tempos da sua vida havia feito algumas revisões de provas de livros e que se na Jangada de Pedratinha, por assim dizer, revisado o futuro, não estaria mal que revisasse agora o passado, inventando um romance que se chamaria História do Cerco de Lisboa, no qual um revisor, revendo um livro do mesmo título, mas de História, e cansado de ver como a dita História cada vez é menos capaz de surpreender, decide pôr no lugar de um "sim" um "não", subvertendo a autoridade das "verdades históricas". Raimundo Silva, assim se chama o revisor, é um homem simples, vulgar, que só se distingue da maioria por acreditar que todas as coisas têm o seu lado visível e o seu lado invisível e que não saberemos nada delas enquanto não lhes tivermos dado a volta completa. De isso precisamente se trata numa conversa que ele tem com o historiador. Assim: "Recordo-lhe que os revisores já viram muito de literatura e vida, O meu livro, recordo-lhe eu, é de história, Não sendo propósito meu apontar outras contradições, senhor doutor, em minha opinião tudo quanto não for vida é literatura, A história também. A história sobretudo, sem querer ofender, E a pintura, e a música, A música anda a resistir desde que nasceu, ora vai, ora vem, quer livrar-se da palavra, suponho que por inveja, mas regressa sempre à obediência, E a pintura, Ora, a pintura não é mais do que literatura feita com pincéis, Espero que não esteja esquecido de que a humanidade começou a pintar muito antes de saber escrever, Conhece o rifão, se não tens cão caça com o gato, ou, por outras palavras, quem não pode escrever, pinta, ou desenha, é o que fazem as crianças, O que você quer dizer, por outras palavras, é que a literatura já existia antes de ter nascido, Sim senhor, como o homem, por outras palavras, antes de o ser já o era, Quer-me parecer que você errou a vocação, devia era ser historiador, Falta-me o preparo, senhor doutor, que pode um simples homem fazer sem o preparo, muita sorte já foi ter vindo ao mundo com a genética arrumada, mas, por assim dizer, em estado bruto, e depois não mais polimento que primeiras letras que ficaram únicas, Podia apresentar-se como autodidata, produto do seu próprio e digno esforço, não é vergonha nenhuma, antigamente a sociedade tinha orgulho nos seus autodidatas, Isso acabou, veio o desenvolvimento e acabou, os autodidatas são vistos com maus olhos, só os que escrevem versos e histórias para distrair é que estão autorizados a ser autodidatas, mas eu para a criação literária nunca tive jeito, Então, meta-se a filósofo, O senhor doutor é um humorista, cultiva a ironia, chego a perguntar-me como se dedicou à história, sendo ela tão grave e profunda ciência, Sou irónico apenas na vida real, Bem me queria a mim parecer que a história não é a vida real, literatura, sim, e nada mais, Mas a história foi vida real no tempo em que ainda não se lhe poderia chamar história, Então o senhor doutor acha que a história e a vida real, Acho, sim, Que a história foi vida real, quero dizer, Não tenho a menor dúvida, Que seria de nós se o deleatur que tudo apaga não existisse, suspirou o revisor". Escusado será acrescentar que o aprendiz aprendeu com Raimundo Silva a lição da dúvida. Já não era sem tempo.

Ora, foi provavelmente esta aprendizagem da dúvida que o levou, dois anos mais tarde, a escrever O Evangelho segundo Jesus Cristo. É certo, e ele tem-no dito, que as palavras do título lhe surgiram por efeito de uma ilusão de óptica, mas é legítimo interrogar-nos se não teria sido o sereno exemplo do revisor o que, nesse meio tempo, lhe andou a preparar o terreno de onde haveria de brotar o novo romance. Desta vez não se tratava de olhar por trás das páginas do "Novo Testamento" à procura de contrários, mas sim de iluminar com uma luz rasante a superfície delas, como se faz a uma pintura, de modo a fazer-lhe ressaltar os relevos, os sinais de passagem, a obscuridade das depressões. Foi assim que o aprendiz, agora rodeado de personagens evangélicas, leu, como se fosse a primeira vez, a descrição da matança dos Inocentes, e, tendo lido, não compreendeu. Não compreendeu que já pudesse haver mártires numa religião que ainda teria de esperar trinta anos para que o seu fundador pronunciasse a primeira palavra dela, não compreendeu que não tivesse salvado a vida das crianças de Belém precisamente a única pessoa que o poderia ter feito, não compreendeu a ausência, em José, de um sentimento mínimo de responsabilidade, de remorso, de culpa, ou sequer de curiosidade, depois de voltar do Egipto com a família. Nem se poderá argumentar, em defesa da causa, que foi necessário que as crianças de Belém morressem para que pudesse salvar-se a vida de Jesus: o simples senso comum, que a todas as coisas, tanto às humanas como às divinas, deveria presidir, aí está para nos recordar que Deus não enviaria o seu Filho à terra, de mais a mais com o encargo de redimir os pecados da humanidade, para que ele viesse a morrer aos dois anos de idade degolado por um soldado de Herodes... Nesse "Evangelho", escrito pelo aprendiz com o respeito que merecem os grandes dramas, José será consciente da sua culpa, aceitará o remorso em castigo da falta que cometeu e deixar-se-á levar à morte quase sem resistência, como se isso lhe faltasse ainda para liquidar as suas contas com o mundo. O "Evangelho" do aprendiz não é, portanto, mais uma lenda edificante de bem-aventurados e de deuses, mas a história de uns quantos seres humanos sujeitos a um poder contra o qual lutam, mas que não podem vencer. Jesus, que herdará as sandálias com que o pai tinha pisado o pó dos caminhos da terra, também herdará dele o sentimento trágico da responsabilidade e da culpa que nunca mais o abandonará, nem mesmo quando levantar a voz do alto da cruz: "Homens, perdoai-lhe porque ele não sabe o que fez", por certo referindo-se ao Deus que o levara até ali, mas quem sabe se recordando ainda, nessa agonia derradeira, o seu pai autêntico, aquele que, na carne e no sangue, humanamente o gerara. Como se vê, o aprendiz já tinha feito uma larga viagem quando no seu herético "Evangelho" escreveu as últimas palavras do diálogo no templo entre Jesus e o escriba: "A culpa é um lobo que come o filho depois de ter devorado o pai, disse o escriba, Esse lobo de que falas já comeu o meu pai, disse Jesus, Então só falta que te devore a ti, E tu, na tua vida, foste comido, ou devorado, Não apenas comido e devorado, mas vomitado, respondeu o escriba".

Se o imperador Carlos Magno não tivesse estabelecido no Norte da Alemanha um mosteiro, se esse mosteiro não tivesse dado origem à cidade de Münster, se Münster não tivesse querido assinalar os mil e duzentos anos da sua fundação com uma ópera sobre a pavorosa guerra que enfrentou no século XVI protestantes anabaptistas e católicos, o aprendiz não teria escrito a peça de teatro a que chamou In Nomine Dei. Uma vez mais, sem outro auxílio que a pequena luz da sua razão, o aprendiz teve de penetrar no obscuro labirinto das crenças religiosas, essas que com tanta facilidade levam os seres humanos a matar e a deixar-se matar. E o que viu foi novamente a máscara horrenda da intolerância, uma intolerância que em Münster atingiu o paroxismo demencial, uma intolerância que insultava a própria causa que ambas as partes proclamavam defender. Porque não se tratava de uma guerra em nome de dois deuses inimigos, mas de uma guerra em nome de um mesmo deus. Cegos pelas suas próprias crenças, os anabaptistas e os católicos de Münster não foram capazes de compreender a mais clara de todas as evidências: no dia do Juízo Final, quando uns e outros se apresentarem a receber o prémio ou o castigo que mereceram as suas acções na terra, Deus, se em suas decisões se rege por algo parecido à lógica humana, terá de receber no paraíso tanto a uns como aos outros, pela simples razão de que uns e outros nele crêem. A terrível carnificina de Münster ensinou ao aprendiz que, ao contrário do que prometeram, as religiões nunca serviram para aproximar os homens, e que a mais absurda de todas as guerras é uma guerra religiosa, tendo em consideração que Deus não pode, ainda que o quisesse, declarar guerra a si próprio...
Cegos. O aprendiz pensou: "Estamos cegos", e sentou-se a escrever o Ensaio sobre a Cegueira para recordar a quem o viesse a ler que usamos perversamente a razão quando humilhamos a vida, que a dignidade do ser humano é todos os dias insultada pelos poderosos do nosso mundo, que a mentira universal tomou o lugar das verdades plurais, que o homem deixou de respeitar-se a si mesmo quando perdeu o respeito que devia ao seu semelhante. Depois, o aprendiz, como se tentasse exorcizar os monstros engendrados pela cegueira da razão, pôs-se a escrever a mais simples de todas as histórias: uma pessoa que vai à procura de outra pessoa apenas porque compreendeu que a vida não tem nada mais importante que pedir a um ser humano. O livro chama-se Todos os Nomes. Não escritos, todos os nossos nomes estão lá. Os nomes dos vivos e os nomes dos mortos.

Termino. A voz que leu estas páginas quis ser o eco das vozes conjuntas das minhas personagens. Não tenho, a bem dizer, mais voz que a voz que elas tiverem. Perdoai-me se vos pareceu pouco isto que para mim é tudo.

Por JOSÉ SARAMAGO

Estocolmo, 7 de Outubro de 1998

Fonte: http://www.citi.pt/cultura/literatura/romance/saramago/est_dis2.html



Oficina de Escrita

                                     Paula Rego, O Tempo-Passado e Presente, 1990

Uma viagem ao meu passado

         Quando eu era pequeno e tinha 7 anos, eu vivia na minha casa com a minha família, em Moura. Eu andava no infantário com o meu irmão e os meus amigos e gostava dos meus professores, mas não gostava que se zangassem comigo.

         Na infância, eu adorava brincar com o meu irmão e os meus velhos amigos com quem convivi desde sempre. No infantário, havia muitos jogos interessantes e todos nos divertíamos bastante. Por volta das 17.30h, a minha mãe ia buscar-me a mim e ao meu irmão, porque ela trabalha na creche, perto do infantário, pelo que era fácil fazer o percurso. Depois, seguíamos para a casa dos meus avós, para lanchar e estar com eles.
           Eu conversava sempre com o meu avô, que me contava histórias da vida dele e das experiências que tinha vivido. O passado do meu avô é triste, porque sofreu as consequências da 2º Guerra Mundial. Eu gosto muito de conversar com meu pai e o meu avô sobre assuntos de história, para conhecer a realidade da vida na Terra, a evolução da civilização e das raças humanas, porque há uma enorme diversidade de culturas no nosso Planeta.

         Porém, eu, o meu irmão e os meus velhos amigos também gostávamos de fazer coisas idiotas, como lutar, fazer jogos loucos, fazer asneiras, como é natural, quando somos pequenos. Eu achava que era diferente dos outros, porque, às vezes, eles não me davam atenção.


         Atualmente, estou a estudar Memorial do Convento, de José Saramago, o único escritor português laureado com o prémio “Nobel de literatura”. Creio que ele era um génio, um homem muito inteligente, autodidata, que estudou e leu muito, tendo deixado uma grande obra literária, que devemos apreciar e divulgar.



Convento de Mafra


Em 1711, decreta EI-Rei D. João V que por justus motivos se erga na Vila de Mafra um convento a Nossa Senhora e a Santo António, a ser entregue à Ordem dos Frades Arrábidos. D. João V escolhe o local (Alto da Vela), compram-se os terrenos e iniciam-se as obras.

Desde o lançamento da primeira pedra, em 1717, à cerimónia de Sagração da Basílica, em 1739, o projeto, sob a direção do arquiteto João Frederico Ludovice, sofreria inúmeras alterações, e de um convento para 13 frades passar-se ai a um palácio mosteiro para 300.

            Em 1730, a Real Obra de Mafra empregava tanta gente que se tornava difícil em qualquer outro lugar do Reino encontrar um carpinteiro ou um balde de cal.


Câmara Municipal de Mafra 



O reinado de D. João V

Jean Ranc, D. João V, 1729


A primeira metade do século XVIII, em Portugal, decorreu quase totalmente sob a vigência de um mesmo rei, D. João V. Subido ao trono em 1706, com dezassete anos de idade, presidiu aos destinos da nação até 1750.

Avulta o reinado de D. João V, na história portuguesa, pela espantosa magnificência de que se rodeou e pelos escândalos amorosos a que se prestou. Esta é a sua imagem corrente embora o mesmo rosto tivesse outras faces. O país era pobre; a corte era rica. O povo vivia na miséria: o rei e a fidalguia praticavam a vida faustosa dos grandes senhores. Nos finais do século anterior tinham sido descobertas abundantes minas de ouro num eldorado longínquo, o Brasil. Periodicamente aportavam a Portugal as naus carregadas do ouro conseguido na exploração mineira e desse total se destinava vinte por cento para certos fins particulares. Era a chamada “nau dos quintos” porque vinte por cento equivale a um quinto, correspondendo, neste caso, à quinta parte do ouro arrancado às minas. Um quinto de tão impressionante riqueza, desembarcada em Lisboa de tempos as tempos, consumia-se nas despesas sumptuosas, nos luxos, nos altares, nas benesses, nas aventuras. O restante, os quatro quintos do ouro, iam em enormíssima percentagem para os nossos credores, o estrangeiro que nos alimentava e vestia.


Sonhava D. João V igualar Luís XIV, a majestade reinante em França, em Parte seu contemporâneo, o denominado Rei-Sol, pelo imenso clarão que emanava da sua pessoa e da sua corte, do seu trajo, as suas cabeleiras postiças, dos seus palácios, das suas amantes. A corte de França, pelo seu mundanismo, enchia de inveja os monarcas da Europa que procuravam imitá-la, e nós bem nos tornamos notados pelo esplendor de que D. João V foi protagonista. 

CARVALHO, Rómulo de (2006). O Texto Poético como Documento Social.

Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, p. 209.    7



Memorial do Convento


Memorial do Convento é um romance de José Saramago, conhecido internacionalmente, publicado pela primeira vez em Outubro de 1982[1]. A acção decorre no início do século XVIII, durante o reinado de D. João V e da Inquisição. Este rei absolutista, graças à grande quantidade de ouro e de diamantes vindos do Brasil Colónia, mandou construir o magnânimo Palácio Nacional de Mafra, mais conhecido por convento, em resultado de uma promessa que fez para garantir a sucessão do trono.

Através da íntima relação entre a narração ficcional e a histórica, o romance critica a exploração dos pobres pelos ricos, que origina a guerra entre os indivíduos, e a corrupção pertencente à natureza humana - com especial enfoque na corrupção religiosa. Revela igualmente o tema do solitário que luta contra a autoridade, recorrente nas obras de Saramago.

Ver e não ver são as chaves simbólicas do romance. Baltasar tem a alcunha de Sete-Sóis, porque apenas consegue ver à luz, enquanto que Blimunda é chamada de Sete-Luas, porque consegue ver no escuro, com o recurso ao seu dom - a ecovisão. Assim, esta dupla, cuja alcunha contém o Sete e a relação Sol-Lua, representa simbolicamente o uno.

Na sua totalidade, as políticas do poder do Portugal contemporâneo são satirizadas pelo autor.

Traduzido em mais de 20 línguas, a obra conta com mais de 50 edições.    

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Memorial_do_Convento


A promessa do rei D. João V

Perguntou el-rei, É verdade o que acaba de dizer-me sua eminência, que se eu prometer levantar um convento em Mafra terei filhos, e o frade respondeu, Verdade é, senhor, porém só se o convento for franciscano, e tornou el-rei, Como sabeis, e frei António disse, sei, não sei como vim a saber, eu sou apenas a boca de que a verdade se serve para falar, a fé não tem mais que responder, construa vossa majestade o convento e terá brevemente sucessão, não o construa e Deus decidirá. Com um gesto mandou el-rei ao arrábido que se retirasse, e depois perguntou a D. Nuno da Cunha, É virtuoso este frade, e o bispo respondeu, Não há outro que mais o seja na sua ordem. Então D. João, o quinto do seu nome, assim assegurado sobre o mérito do empenho, levantou a voz para que claramente o ouvisse quem estava e o soubessem amanhã cidade e reino, Prometo, pela minha palavra real, que farei construir um convento de franciscanos na vila de Mafra se a rainha me der um filho no prazo de um ano a contar deste dia em que estamos, e todos disseram, Deus ouça vossa majestade, e ninguém ali sabia quem iria ser posto à prova, se o mesmo Deus, se a virtude de frei António, se a potência do rei, ou, finalmente, a fertilidade dificultosa da rainha.

SARAMAGO, José (2015). Memorial de Convento.
Porto: Porto Editora, pp. 12-13.



Análise sistematizado

Neste momento inicial da obra, o leitor confronta-se com as preocupações do rei por ausência de descendência. D. João V é informado pelo “arrábido” de que a sua sucessão só será garantida se edificar um convento em Mafra, mas não um convento qualquer, um convento de franciscano. O conector “porém” denuncia sub-repticiamente a antiga pretensão franciscana, os interesses subjacentes à crença religiosa e a força social do clero.
Perante as palavras de Frei António (voz de Deus na Terra) e o assentimento do bispo D. Nuno da Cunha, D. João V anuncia, “Então”, à “cidade” e reino”, a sua promessa de edificar um convento em Mafra, caso tenha um filho no prazo de um ano.
Face à atitude real, o narrador saramaguiano não pode deixar de assumir uma atitude crítica, recorrendo, para tal, à enumeração e à ironia: “[…] e ninguém ali sabia quem iria ser posto à prova, se o mesmo Deus, se a virtude de frei António, se a potência do rei, ou, finalmente, a fertilidade dificultosa da rainha.” (II. 19-22)
Realça-se ainda, no estilo saramaguiano, a construção do discurso direto, marcado apenas por iniciais maiúsculas e vírgulas finais, que conferem maior vivacidade ao diálogo e convocam a participação do leitor na construção do sentido do texto.


Encontros Português 12º ano


O estilo da escrita de José Saramago

Em Memorial do Convento, encontramos uma linguagem e um estilo peculiar, um afastamento às normas tradicionais de pontuação, sobretudo no que respeita ao discurso direto. O narrador conta a história reproduzindo as falas das personagens, num discurso próximo da oralidade, como se estivesse junto de nós, implicando o narrativo na sua “conversa” fluida e mordaz. Repare que não se verifica a mudança de linha no discurso direto, não há o recurso a sinais gráficos como os dois pontos e o travessão, aspas ou itálico. A construção da pausa efectua-se através do uso da vírgula e da letra maiúscula. As frases de tipo interrogativo também terminam com vírgula, mas são fáceis de distinguir, até porque, por vezes, são precedidas do verbo perguntar e seguidas do verbo responder.
A pontuação de Memorial do Convento é uma marca do estilo do autor. Alterá-la seria mutilar o texto, privá-lo de um dos traços que o caracterizam e que o tornam sui generis. Habitue-se a efectuar as pausas necessárias para fazer a leitura e deixe-se envolver pelas “histórias” do narrador. Observe, por exemplo, o jogo artístico que o narrador faz em torno da utilização da vírgula para introduzir o discurso direto:
“Tomou então a palavra João Elvas, que declarou, Foi grande chacina, e deve ter sido feita em vida da infeliz, porque teria sido rigor demasiado tratar assim um cadáver […] nunca na guerra viste uma coisa assim, Sete-Sóis, mesmo não sabendo eu o que na guerra viste, e o que começara a contar o caso pegou nesta vírgula e continuou, Depois foram aparecendo as partes que faltavam…”

Interacções, Português B 12ºANO, Fátima Azóia, Fátima Santos, Supervisão Científico-pedagógica de Conceição Coelho, EVOLUÇÃO E QUALIDADE, Texto Editores.


O tempo histórico e o tempo da narrativa




Tempo histórico
Época histórica em que ocorrem os acontecimentos narrados: reinado de D. João V e construção do convento de Mafra.
.Início da ação: 1711 (“São Francisco andava pelo mundo, precisamente há quinhentos anos, em mil duzentos e onze”).
.Acontecimentos que contribuem para a caracterização do tempo histórico: procissões (penitência após o Carnaval, Corpo de Deus), autos de fé (Inquisição), tourada, bênção da primeira pedra, trabalho nas obras do convento, casamento de D. Maria Bárbara (cortejo real), festa da sagração do convento.



Tempo da narrativa
Forma como os acontecimentos são apresentados pelo narrador:
.Por ordem linear;
.Por meio de analepses- ex.: recuo a 1624 para se explicar a situação que deu origem à promessa do rei de construção do convento em Mafra (desejo dos franciscanos);
.Por meio de prolepses – referência a acontecimentos ocorridos no passado, após a ação narrada (ex.:mortes de Álvaro Diogo, do sobrinho de alusivos ao 25 de Abril, ida do Homem à Lua, cinema…).


Fonte: Encontros 12º ano, Noémia Jorge, Cecília Aguiar, Miguel Magalhães.

Analepse - recuo no tempo (voltar atrás no tempo através da memória, por exemplo)


Prolepse - avanço no tempo (por exemplo, através de sonhos e profecias) 


Caracterização das personagens

Baltasar Sete-Sóis
Blimunda Sete-Luas
.Natural de Mafra
.Assenta praça na infantaria do rei e combate na Guerra da Sucessão de Espanha, ai perdendo a mão esquerda (que substitui por um gancho).
.Quando conhece Blimunda, tem 26 anos, “cara escura e barbada”.
.Participa entusiasticamente na construção da passarola.
.Trabalha nas obras do convento de forma alienada.
.É queimado num auto de fé.

Representa a condição humana e a crítica do narrador à desumanidade da guerra.
.Dotada de poderes sobrenaturais (vê por dentro quando está em jejum).
.Quando conhece Baltasar, tem 19 anos, canelo espesso e cor de mel.
.Recolhe vontades dos homens para o voo da passarola.
.Recolhe a vontade de Baltasar quando  este é queimado pela Inquisição.





Representa o transcendente e a inquietação humana
D. João V
D. Maria Ana Josefa
.Casado com D. Maria Ana Josefa, mas libertino.
.Megalómano – movido pela vaidade e pelo fanatismo religioso, manda construir um convento em Mafra.
.Vaidoso (equiparando-se a Deus).
.Interessado pelas descobertas de Bartolomeu de Gusmão

Representa o poder real absolutista e prepotente/autocrático.
.Relação cerimoniosa com o marido.
.Impossibilitada de assumir a sua feminilidade, sonha com o cunhado, daí resultando sentimentos de culpa.





Representa a mulher aristocrata presa às convenções sociais.
Padre Bartolomeu de Gusmão
Domenico Scarlatti
.Tem a mesma idade de Baltasar, mas é um pouco mais baixo e parece mais novo.
.Vítima de chacota na corte – chamam-lhe “Voador”, por sonhar construir uma máquina de voar, mas é protegido pelo rei.
.Concretiza o seu sonho, com ajuda de Baltasar e Blimunda.
.É perseguido pela inquisição e morre louco.

Representa a elevação ao divino da vontade humana.
.Músico contratado pelo rei para dar lições de cravo à princesa.
.Leva um cravo para a abegoaria, onde toca enquanto Baltasar e Blimunda constroem a passarola.
.A sua música cura Blimunda e permite que a passarola voe.




Representa o poder transcendente da arte.
Povo
.Oprimido, explorado, submisso, vítima da prepotência do rei e do clero.
.Massa coletiva e anónima constituída pelos milhares de portugueses que foram obrigados a concretizar o sonho megalómano do rei.
.Representado por Baltasar e Blimunda e individualizado por Manuel Milho, Francisco Marques, Sebastiana de Jesus, João Francisco e Marta Maria…


Fonte: Encontros 12º ano, Noémia Jorge, Cecília Aguiar, Miguel Magalhães.

Resumo de Memorial do Convento

Capítulo I

  • Anúncio da ida de D. João V ao quarto da rainha.
  • Desejo de D. Maria Ana: satisfazer o desejo do rei de ter um herdeiro para o reino.
  • Passatempo do rei: construção, em miniatura, da Basílica de S. Pedro de Roma.
  • Premonição de um franciscano: o rei terá um filho se erguer um convento franciscano em Mafra.
  • Promessa do rei: mandar construir um convento se a rainha lhe der um filho no prazo de um ano.
  • Chegada do Rei ao quarto da rainha, decidido a ver cumprida a promessa feita a Frei António de S. José.
Capítulo II
  • Referência a milagres franciscanos que auguram a promessa real: história de Frei Miguel da Anunciação (o corpo que não corrompia e os milagres); história de Sto. António (seus milagres e castigos); os precedentes franciscanos.
  • Visão crítica do narrador face às promessas e milagres dos franciscanos: o mundo marcado por excesso de riqueza e extrema pobreza.

Capítulo III
  • Reflexões sobre Lisboa: condições de vida; visão abjeta da cidade no Entrudo; crítica a hábitos religiosos, à procissão da penitência, à Quaresma.
  • O estado de gravidez da rainha (da condição de mulher comum à sua infinita religiosidade).
  • O sonho da rainha com o cunhado (tópico da traição).

Capítulo IV
  • Apresentação de Baltasar Mateus: Sete-Sóis, 26 anos, natural de Mafra, maneta à esquerda, na sequência da Batalha de Jerez de los Caballeros (Espanha).
  • Estada em Évora, onde pede esmola para pagar um gancho de ferro e poder substituir a mão
  • Percurso até Lisboa, onde vive muitas dificuldades.
  • Indecisão de Baltasar: regressar a Mafra ou dirigir-se ao Terreiro do Paço (Lisboa) e pedir dinheiro pela mutilação na guerra.
  • Encontro de Baltasar Sete-Sóis com um amigo, antigo soldado: João Elvas.
  • Referências ao crime na cidade lisboeta e ao Limoeiro.

Capítulo V
  • Fragilidade de D. Maria Ana, com a gravidez e com a morte do seu irmão José (imperador da Áustria).
  • Apresentação de Sebastiana Maria de Jesus, mãe de Blimunda (Sete Luas) - condenada ao degredo (Angola), por ter visões e revelações.
  • Espetáculo do auto de fé assistido por Blimunda, na companhia do padre Bartolomeu Lourenço.
  • Proximidade de Baltasar Mateus (Sete-Sóis), que trava conhecimento com Blimunda assim que esta lhe pergunta o nome.
  • Paixão de Baltasar pelos olhos de Blimunda.
  • União de Bartolomeu Lourenço, Blimunda e Baltasar, após o auto de fé, tendo o ex-soldado acompanhado o padre e Blimunda a casa desta, onde comeram uma sopa.
  • Apresentação de Blimunda como vidente (quando está em jejum vê as pessoas “por dentro”).
  • Consumação do amor de Baltasar e Blimunda (19 anos, virgem), com esta a prometer que nunca o olhará por dentro.

Capítulo VI
  • Visão crítica das leis comerciais.
  • Narrativa de João Elvas, a Baltasar, sobre um suposto ataque dos franceses a Lisboa (que mais não era do que a chegada de uma frota com bacalhau).
  • Conflito de Baltasar: saber a cor dos olhos de Blimunda.
  • Deslocação do Padre Bartolomeu Lourenço ao Paço para interceder por Baltasar (a fim de este receber uma pensão de guerra) e compromisso de falar com o Rei, caso tarde a resposta.
  • Apresentação, por João Elvas, de Bartolomeu Lourenço como o Voador (as diversas tentativas levadas a cabo pelo padre para voar, justificando-se, este, que a necessidade está na base das conquistas do homem; o conhecimento da mãe de Blimunda, dadas as visões que esta tinha de pessoas a voar).
  • Questão de Baltasar ao padre: o facto de Blimunda comer pão, de manhã, antes de abrir os olhos.
  • Apresentação da passarola a Baltasar, pelo Padre B. Lourenço (S. Sebastião da Pedreira).
  • Descrição da passarola, a partir do desenho que o padre mostra a Baltasar.
  • Convite do Padre para que Baltasar o ajude na construção da passarola.

Capítulo VII
  • Trabalho de Baltasar num açougue.
  • Evolução da gravidez da rainha, tendo o rei de se contentar com uma menina.
  • Rendição das frotas portuguesas do Brasil aos franceses.
  • Visita de Baltasar e Blimunda à zona enfeitada para o batismo da princesa, estando aquele mais cansado do que habitualmente, por carregar tanta carne para o evento.
  • Morte do frade que formulou a promessa real; fidelidade de D. João V à promessa.

Capítulo VIII
  • Relação amorosa de Baltasar e Blimunda.
  • Procura de Baltasar a propósito do misterioso acordar de Blimunda: esta conta-lhe que, em jejum, consegue ver o interior das pessoas; daí comer o pão ao acordar para não ver o interior de Baltasar.
  • Indicação de Blimunda, a Baltasar, acerca do seu dom: vê o interior dos outros e “vê” a nova gravidez da rainha.
  • Falha na obtenção da tença pedida ao Paço para Baltasar e despedimento do local onde este trabalhava (açougue).
  • Nascimento do segundo filho do rei, o infante D. Pedro.
  • Deslocação de El-rei a Mafra, para escolher a localização do convento (um alto a que chamam Vela).

Capítulo IX
  • Auxílio de Baltasar ao padre Lourenço na construção da passarola, tendo-lhe este dado a chave da quinta do duque de Aveiro, onde se encontra a “máquina de voar”.
  • Visita de Baltasar à quinta, acompanhado de Blimunda.
  • Inspeção de Blimunda, em jejum, à máquina em construção para descobrir as suas fragilidades.
  • Atribuição, pelo Padre B. Lourenço, dos apelidos de Sete-Sóis e Sete-Luas, respetivamente, a Baltasar e a Blimunda (ele vê “às claras” e ela “vê às escuras”).
  • Deslocação do Padre à Holanda, para aprender com os alquimistas a fazer descer o éter das nuvens (necessário para fazer voar a passarola).
  • Realização de novo auto-de-fé, mas Baltasar e Blimunda permanecem em S. Sebastião da Pedreira.
  • Partida de Baltasar e Blimunda para Mafra e do padre para a Holanda, ficando aqueles responsáveis pela passarola.
  • Ida à tourada, antes de Baltasar e Blimunda partirem de Lisboa.

Capítulo X
  • Visita de Baltasar à família, com apresentação de Blimunda e explicação da perda da mão.
  • Vivência conjunta e harmoniosa na família de Baltasar.
  • Venda das terras do pai de Baltasar, por causa da construção do convento.
  • Trabalho procurado por Baltasar.
  • Comparação entre a morte e o funeral do filho de dois anos da irmã de Baltasar e a morte do infante D. Pedro.
  • Nova gravidez da rainha, desta vez do futuro rei.
  • Comparação dos encontros de Baltasar com Blimunda e do rei com a rainha.
  • A frequência dos desmaios do rei e a preocupação da rainha.
  • O desejo de D. Francisco, irmão do rei, casar com a rainha, à morte deste.
                                                                                                   
Capítulo XI
  • Regresso de Bartolomeu Lourenço da Holanda, passados três anos, e o abandono da abegoaria (quinta de S. Sebastião da Pedreira).
  • Constatação do padre de que Baltasar cuidara da passarola, conforme lhe havia pedido.
  • Deslocação a Coimbra, passando por Mafra para saber de Baltasar e Blimunda.
  • Reflexão sobre o papel que cada um tem na construção do futuro, não estando este apenas nas mãos de Deus.
  • Atribuição de bênção a quem a pede, deparando o padre, no caminho para Mafra, com trabalhadores (comparados a formigas).
  • Conversa do Padre com um pároco, ficando a saber que Baltasar e Blimunda casaram e onde vivem.
  • Visita do padre ao casal de amigos e conversa sobre a passarola.
  • Bartolomeu Lourenço na casa do padre Francisco Gonçalves, a pernoitar.
  • Encontro de Blimunda e Baltasar com padre B. Lourenço, de manhã muito cedo, quando ela ainda está em jejum.
  • Apresentação, a Baltasar e Blimunda, do resultado de aprendizagem do Padre na Holanda: o éter que fará voar a passarola vive dentro das pessoas (não é a alma dos mortos, mas a vontade dos vivos).
  • Pedido de auxílio do Padre a Blimunda: ver a vontade dos homens (esta consegue ver a vontade do padre) e colhê-la num frasco.
  • Deslocação de Bartolomeu Lourenço a Coimbra para aprofundar os seus estudos e se tornar doutor.
  • Ida de Blimunda e Baltasar para Lisboa: ela, para recolher as vontades; ele, para construir a passarola.

Capítulo XII
  • Tomada da hóstia, em jejum: Blimunda descobre que o que está dentro desta é o mesmo que está dentro do homem – a religião.
  • Festividades da inauguração da construção do convento e do lançamento da primeira pedra (três dias), a ter lugar numa igreja–tenda ricamente decorada e com a presença de D. João V.
  • Baltasar e Blimunda na inauguração.
  • Passada uma semana, partida do casal para Lisboa.

Capítulo XIII
  • Verificação de Baltasar relativamente ao estado enferrujado da máquina, seguida dos arranjos necessários e da construção de uma forja enquanto o padre não chega.
  • Chegada do padre, dizendo a Blimunda que serão necessárias, pelo menos, duas mil vontades para a passarola voar (tendo ela apenas recolhido cerca de trinta).
  • Conselho do Padre para que Blimunda recolha vontades na procissão do Corpo de Deus.
  • Regresso do Padre a Coimbra para concluir os seus estudos.
  • Trabalho de Baltasar e Blimunda na máquina, durante o inverno e a primavera, e chegada, por vezes, do padre com esferas de âmbar amarelo (que guardava numa arca).
  • Perspetivas de a procissão do Corpo de Deus ser diferente do normal.
  • Perda da capacidade visionária de Blimunda, com a chegada da lua nova.
  • Saída da procissão (8 de junho de 1719) – só no dia seguinte, com a mudança da lua, Blimunda recupera o seu poder.

Capítulo XIV
  • Regresso do Padre Bartolomeu Lourenço de Coimbra, doutor em cânones.
  • Novo estatuto do padre: fidalgo capelão do rei, vivendo nas varandas do Terreiro do Paço.
  • Relação do padre com o rei: este apoia a aventura da passarola, exprimindo o desejo de voar nela.
  • Lição de música (cravo) da infanta D. Maria Bárbara (8 anos), sendo o seu professor o maestro Domenico Scarlatti.
  • Conversa do padre com Scarlatti, depois da lição.
  • Audição, em toda a Lisboa, de Scarlatti a tocar cravo, em privado.
  • Scarlatti em S. Sebastião da Pedreira, a convite de Bartolomeu Lourenço (após dez anos de Baltasar e Blimunda terem entrado na quinta).
  • Apresentação a Scarlatti do casal e da máquina de voar.
  • Convite a Scarlatti para visitar a quinta sempre que quiser.
  • Ensaio do sermão de Bartolomeu Lourenço para o Corpo de Deus (tema: Et ego in illo).

Capítulo XV
  • Censura do sermão de Bartolomeu Lourenço por um consultor do Santo Ofício.
  • S. Sebastião da Pedreira recebe o cravo de Scarlatti.
  • Vontade de Scarlatti voar na passarola e tocar no céu.
  • Ida de Baltasar e Blimunda a Lisboa (dominada pela peste), à procura de vontades.
  • Doença estranha de Blimunda, após a recolha de duas mil vontades.
  • Apoio de Baltasar e recuperação de Blimunda após audição da música de Scarlatti.
  • Encontro do casal com o padre Bartolomeu Lourenço.
  • Remorsos de Bartolomeu Lourenço por ter colocado Blimunda em perigo de vida.
  • Vontade de Bartolomeu Lourenço informar o rei de que a máquina está pronta, não sem a experimentar primeiro.

Capítulo XVI
  • Reflexão sobre o valor da justiça.
  • Morte de D. Miguel, irmão do rei, devido a naufrágio.
  • Necessidade de o Rei devolver a quinta de S. Sebastião da Pedreira ao Duque de Aveiro, após anos de discussão na Justiça.
  • Vontade do Padre experimentar a máquina para, depois, a apresentar ao rei.
  • Receio do Padre face ao Santo Ofício: o voo entendido como arte demoníaca.
  • Fuga do Padre, procurado pela Inquisição, na passarola.
  • Destruição da abegoaria para a passarola poder voar.
  • Voo da máquina com o Padre, Baltasar e Blimunda e descrição de Lisboa vista do céu.
  • Abandono do cravo num poço da quinta para Scarlatti não ser perseguido pelo Santo Ofício.
  • Perseguição de Bartolomeu Lourenço pela Inquisição.
  • Divisão de tarefas na passarola e preocupação do Padre: se faltar o vento a passarola começa a cair e o mesmo acontecerá quando o sol se puser.
  • Visão de Mafra a partir do céu: a obra do convento, o mar.
  • Ceticismo dos habitantes que veem a passarola nos céus.
  • Descida e pouso da passarola numa espécie de serra, com a chegada da noite.
  • Tentativa de destruição da passarola, por Bartolomeu Lourenço (fogo), mas Baltasar e Blimunda impedem-no.
  • Fuga do padre e camuflagem da máquina com ramos das moitas, na serra do Barregudo.
  • Chegada de Baltasar e Blimunda, dois dias depois, a Mafra, fingindo que vêm de Lisboa.
  • Procissão em Mafra em honra do Espírito Santo, que sobrevoou as obras da basílica (na perspetiva dos habitantes).

Capítulo XVII
  • Trabalho procurado por Baltasar e Álvaro Diogo com a hipótese de ele trabalhar nas obras do convento.
  • Baltasar na Ilha da Madeira, local de alojamento para os trabalhadores do convento.
  • Descrição da vida nas barracas de madeira (mais de 200 homens que não são de Mafra).
  • Verificação do atraso das obras (feita por Baltasar) – motivos: chuva e transporte dos materiais dificultam o avanço.
  • Notícias de um terramoto em Lisboa.
  • Regresso de Baltasar ao Monte Junto, onde se encontra a passarola.
  • Visita de Scarlatti ao convento e encontro com Blimunda, sendo esta informada de que Bartolomeu de Gusmão morreu em Toledo, no dia do terramoto.

Capítulo XVIII
  • Enumeração dos bens do Império de D. João V.
  • Enumeração dos bens comprados para a construção do convento.
  • Realização de uma missa numa capela situada entre o local do futuro convento e a Ilha da Madeira.
  • Apresentação dos trabalhadores do convento e apresentação de Baltasar Mateus (já com 40 anos).

Capítulo XIX
  • Os trabalhos de transporte de pedra-mãe (Benedictione).
  • Mudança de serviço no trabalho de Baltasar: dos carros de mão à junta de bois.
  • Notícia da necessidade de ir a Pero Pinheiro buscar uma pedra enorme (Benedictione).
  • Trabalho dos homens em época de calor e descrição da pedra.
  • Ferimento de um homem (perda do pé) no transporte da pedra (“Nau da Índia”).
  • Narrativa de Manuel Milho (história de uma rainha e de um ermitão).
  • Segundo dia do transporte da pedra e retoma da narrativa de Manuel Milho.
  • Chegada a Cheleiros e morte de Francisco Marques (atropelado pelo carro que transporta a pedra) bem como de dois bois.
  • Velório do corpo do trabalhador.
  • Manuel Milho retoma a narrativa.
  • Missa e sermão de domingo.
  • Final da história narrada por Manuel Milho.
  • Chegada da pedra ao local da Basílica, após oito dias de percurso.

Capítulo XX             
  • Regresso de Baltasar, na primavera, ao Monte Junto, depois de seis ou sete tentativas.
  • Companhia de Blimunda, passados três anos da descida da passarola, nesse regresso.
  • Confidência de Baltasar ao pai: o destino da sua viagem e o voo na passarola.
  • Renovação da passarola graças à limpeza feita por Baltasar e Blimunda.
  • Descida do casal a Mafra, localidade infestada por doenças venéreas.
  • Morte do pai de Baltasar.

Capítulo XXI
  • Auxílio desmotivado da Infanta D. Maria e do Infante D. José na construção da Basílica de S. Pedro (brinquedo de D. João V).
  • Encomenda de D. João V ao arquiteto Ludovice para construir uma basílica como a de S. Pedro na corte portuguesa.
  • Desencorajamento de Ludovice, convencendo o rei a construir um convento maior em Mafra.
  • Conversa de D. João V com o guarda-livros sobre as finanças portuguesas e preparativos para o aumento da construção do convento em Mafra.
  • Intimação de um maior número de trabalhadores para cumprimento da vontade real.
  • O rei e o medo da morte (que o possa impedir de ver a obra final).
  • Vontade de D. João V em sagrar a basílica no dia do seu aniversário, daí a dois anos (22/10/1830).
  • Chegada de um maior número de trabalhadores a Mafra (500).

Capítulo XXII
  • Casamento da Infanta Maria Bárbara com o príncipe D. Fernando de Castela e casamento do príncipe D. José com Mariana Vitória.
  • Participação de João Elvas no cortejo real para encontro dos príncipes casadoiros.
  • Parida do rei para Vendas Novas.
  • Percurso do rei na direção de Montemor.
  • Trabalho de João Elvas no arranjo das ruas, após chuva torrencial, para que o carro da rainha e da princesa possa prosseguir para Montemor.
  • Esforço dos homens para tirar o carro da rainha de um atoleiro.
  • João Elvas recorda o companheiro Baltasar Mateus junto de Julião Mau-Tempo.
  • Conversa destes e a suspeita de que Baltasar voou com Bartolomeu de Gusmão.
  • Tempo chuvoso no percurso de Montemor a Évora.
  • Lembrança da princesa de que desconhece o convento que se está a erguer em favor do seu nascimento, depois de ver homens presos a serem enviados para trabalhar em Mafra.
  • Encontro do rei com a rainha e os infantes em Évora.
  • Cortejo real dirigido para Elvas, oito dias após a partida de Lisboa para troca das princesas peninsulares.
  • Reis de Espanha em Badajoz.
  • Chegada do rei, da rainha e dos infantes ao Caia, a 19 de janeiro.
  • Cerimónia da troca das princesas peninsulares.

Capítulo XXIII                                                                       
  • Cortejo de estátuas de santos em Fanhões.
  • Deslocação de noviços para Mafra nas vésperas de sagração do convento.
  • Chegada dos noviços.
  • Regresso de Baltasar a casa depois do trabalho.
  • Ida de Baltasar e Blimunda ao local onde se encontram as estátuas.
  • Apreensão de Blimunda ao saber que passados seis meses Baltasar vai ver a passarola.
  • O casal no círculo das estátuas e reflexão sobre a vida e a morte.
  • Despedida amorosa de Baltasar e Blimunda na barraca do quintal.
  • Chegada de Baltasar à Serra do Barregudo.
  • Entrada de Baltasar na passarola, seguida da queda deste e do voo da máquina.

Capítulo XXIV
  • Espera de Blimunda e posterior busca de Baltasar.
  • Entrada do rei em Mafra.
  • Grito de Blimunda ao chegar ao Monte Junto, depois de descobrir que a passarola não se encontrava no local habitual.
  • Encontro de Blimunda com um frade dominicano que a convida a recolher-se numa ruínas junto ao convento.
  • Tentativa de violação de Blimunda pelo frade e morte deste com o espigão que ela lhe enterra entre as costelas.
  • Blimunda faz o caminho de regresso a casa.
  • A ansiedade de Blimunda depois de duas noites sem dormir.
  • Final das festividades do dia, em Mafra.
  • Informação de Álvaro Diogo sobre quem está para chegar a Mafra.
  • Dia do aniversário do rei e da sagração da basílica.
  • Cortejo assistido por Inês Antónia e Álvaro Diogo, acompanhados por Blimunda.
  • Bênção do patriarca na Benedictione.
  • Final do primeiro dos oito dias de sagração e saída de Blimunda para procurar Baltasar.


Fonte: http://www.faroldasletras.pt/memorial_capitulos.html#1



O Carnaval


A expressão Carnaval vem do latim carne vale, que significa "adeus à carne" e corresponde ao período de jejum que se aproxima antes da Páscoa e que é conhecido pela Quaresma.

Carnaval é, pois, uma festividade do cristianismo que ocorre   durante fevereiro ou início de março, durante o período historicamente conhecido como Tempo da Septuagésima (ou pré-quaresma). O Carnaval normalmente envolve uma festa pública e/ou desfile combinando alguns elementos circenses, máscaras e uma festa de rua pública. As pessoas usam trajes durante muitas dessas celebrações, permitindo-lhes perder a sua individualidade quotidiana e experimentar um sentido elevado de unidade social.

O Carnaval moderno, feito de desfiles e fantasias, é produto da sociedade vitoriana do século XX. A cidade de Paris foi o principal modelo exportador da festa carnavalesca para o mundo. Cidades como Nice, Santa Cruz de Tenerife, Nova Orleans, Toronto e Rio de Janeiro inspiraram-se no Carnaval parisiense para implantar as suas novas festas carnavalescas. Já o Rio de Janeiro criou e exportou o estilo de fazer carnaval com desfiles de escolas de samba para outras cidades do mundo, como São Paulo, Tóquio e Helsinque.

Em Portugal, também celebramos o Carnaval e há muitas festas promovidas por instituições e particulares. A Câmara Municipal de Moura, por exemplo, promove o Carnaval das Escolas. Este ano, o desfile carnavalesco teve o mote de “Património”, contando com a presença de cerca de 1400 participantes. O corso teve início no Largo de Santa Clara e terminou no Largo dos Quartéis.
Em Beja, Serpa, Amareleja, Póvoa de São Miguel, Santo Aleixo da Restauração e Safara também houve desfiles promovidos pelas autarquias em colaboração com os estabelecimentos de ensino.

Eu comecei as férias de Carnaval no dia 9 de fevereiro de 2018, mas permaneci em minha casa todos os dias, pelo que não fui ver o desfile de carnaval, em Moura. Sentia-me cansado e preferi recuperar energias, o que me levou a ficar a descontrair em nossa casa, um espaço que me dá tranquilidade espiritual, porque também posso passear no campo.

            O meu pai pediu-me que ajudasse um amigo dele e eu aceitei, o que me fez bem e sentir feliz, com vontade para trabalhar. O trabalho consistia em soldar uma peça, pelo que tive cuidado com a proteção do meu rosto, durante a tarefa de soldadura.
            No último dia de férias, eu e os meus pais fomos a Lisboa para eu ir à Widex fazer o teste de audição e saber se o meu problema de surdez tinha sofrido evolução. De facto, agora, o meu nível de audiologia está muito bom comparativamente com os testes de 2016, porque tenho treinado o meu cérebro, o que contribuiu para a evolução da audição de forma quase inexplicável e sobrenatural.

Eu e os meus pais ficámos muito felizes com esta notícia e com a esperança de que, com o decorrer do tempo, eu consiga ultrapassar este obstáculo à comunicação, que é a minha surdez. Por isso, é muito importante que eu leia e que comunique com as pessoas, pois o isolamento não me ajuda a progredir.



A Inquisição portuguesa


Em 24 de dezembro de 1496, Dom Manuel assinou uma ordem que mandava que todos os judeus (não convertidos) deixassem Portugal no prazo de dez meses, sob pena de morte e confisco de seus bens. Em abril de 1497, Dom Manuel ordenou que no domingo de Páscoa, fossem tirados à força, dos judeus que tivessem optado pelo desterro em vez de aceitar o batismo católico, todos os filhos e filhas menores de 14 anos de idade para serem educados às custas do Rei e encaminhados na  cristã.
17 de dezembro de 1531 Clemente VII pela bula Cum ad nihil magis autorizava a Inquisição em Portugal, mas, um ano depois, anulou a decisão. Em 1533, concedeu a primeira bula de perdão aos cristãos-novos portugueses. D. João III renovou o pedido e encontrou ouvidos favoráveis no novo Papa, Paulo III que cedeu, em parte por pressão de Carlos V de Habsburgo.
Em 23 de maio de 1536, por outra bula em tudo semelhante à primeira, foi instituída a Inquisição em Portugal. A sua primeira sede foi Évora, onde se achava a corte. Tal como nos demais reinos ibéricos, tornou-se um tribunal ao serviço da Coroa.
A Inquisição Portuguesa tinha de cobrir todos os territórios do império ultramarino português, tendo sido particularmente mais rigorosa em Portugal e menos violenta na Índia. É natural serem hoje recordados somente os casos mais marcantes que tenham comovido ou irado as populações, contentes ou não pelos resultados dos julgamentos feitos. Foi decretada uma lei que proibia a todos de apedrejarem, cuspirem, ou insultarem os réus e os condenados. Contudo, eram as crianças que apedrejavam de forma "desculpável".
A Inquisição em Goa começou em 1560 e tinha como principal objetivo punir pessoas que seguiam o hinduísmo ou islamismo e que se converteram para o catolicismo romano, mas que eram suspeitas de estarem seguindo suas antigas fés. Além disso, a Inquisição processava não-convertidos que interferiam em tentativas portuguesas de converter os não-cristãos ao catolicismo.
De acordo com Henry Charles Lea, entre 1540 e 1794, os tribunais de Lisboa, Porto, Coimbra e Évora queimaram 1.175 pessoas vivas e impuseram castigos a 29.590 seres humanos. No entanto, a documentação de 15 dos 689 autos-de-fé desapareceu, de forma que estes números podem subestimar levemente a realidade.


Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Inquisi%C3%A7%C3%A3o_portuguesa



Os homens não aprendem com as lições da História

A Guerra na Síria


A Guerra Civil Síria é um conflito interno em andamento na Síria, que começou como uma série de grandes protestos populares em 26 de janeiro de 2011 e progrediu para uma violenta revolta armada em 15 de março de 2011, influenciados por outros protestos simultâneos no mundo árabe.
 Enquanto a oposição alega estar lutando para destituir a ditadura do presidente “Bashar al-Assad”, para posteriormente instalar uma nova liderança mais democrática no país, o governo sírio diz estar apenas a combater "terroristas armados que visam desestabilizar o país".
Com o passar do tempo, a guerra deixou de ser uma simples "luta por poder" e passou também a abranger aspetos de natureza sectária e religiosa, com diversas fações que formam a oposição combatendo tanto o governo quanto umas às outras.

 Assim, o conflito acabou por se espalhar, atingindo também países como o Iraque e o Líbano, atiçando, especialmente, a rivalidade entre xiitas e sunitas. Atualmente, muitos civis têm sido mortos e todos nós estamos indignados com a violação dos direitos humanos, nomeadamente, a violação de mulheres e a morte de inúmeras crianças.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Civil_S%C3%ADria


Reflexão Final

Francisco Ferreira

Eu aprendi muitas coisas de português e história durante os três anos do meu Curso Profissional de Eletromecânica. Gosto muito de português e das aulas com minha querida professora Fátima Santos, porque sinto que é importante aprender a língua e a literatura portuguesas e ter uma boa cultura geral.

O meu webfólio já tem três anos e é constituído por muitos trabalhos que realizei nas aulas de português, onde também pesquisava factos históricos de que gosto muito.
Eu estava sempre muito divertido a fazer o webfólio e as aulas eram agradáveis. A minha professora ensinou-me muitas coisas de português: a escrever, a pesquisar, a escolher as informações e a interpretar.


      Muito obrigado por tudo, durante estes três anos.


            

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