Amor é um Fogo que
Arde sem se Ver
Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem-querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humana amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"
O poema de Camões data
do século XVI. Neste soneto, o Poeta tenta apresentar uma definição do Amor; mas só consegue
demonstrar que qualquer tentativa semelhante, ao final, levará ao ponto de
partida. Em Camões, o amor é sempre propositadamente contraditório, pois o
poeta quer mostrar que é desse paradoxo (contradição, oposição) que se origina a sua grandeza para dominar, de forma delicada e imbatível, a vida do ser humano,
ser tão complexo nos seus sentimentos.
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