terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Amor é um Fogo que Arde sem se Ver
Amor é um fogo que arde sem se ver; 
É ferida que dói, e não se sente; 
É um contentamento descontente; 
É dor que desatina sem doer. 

É um não querer mais que bem-querer; 
É um andar solitário entre a gente;
 
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder;
 

É querer estar preso por vontade; 
É servir a quem vence, o vencedor;
 
É ter com quem nos mata, lealdade.
 

Mas como causar pode seu favor
 
Nos corações humana amizade,
 
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
 

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"
 

O poema de Camões data do século XVI. Neste soneto, o Poeta tenta apresentar uma definição do Amor; mas só consegue demonstrar que qualquer tentativa semelhante, ao final, levará ao ponto de partida. Em Camões, o amor é sempre propositadamente contraditório, pois o poeta quer mostrar que é desse paradoxo (contradição, oposição) que se origina a sua grandeza para dominar, de forma delicada e imbatível, a vida do ser humano, ser tão complexo nos seus sentimentos.     

                                https://www.youtube.com/watch?v=kNX91c90bng






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