terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Sophia de Mello Breyner Andersen


            Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu no Porto, no dia 6 de novembro de 1919 e faleceu em Lisboa, no dia 2 de Julho de 2004. Foi uma das mais importantes poetisas portuguesas do século XX. Foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa, o Prémio Camões, em 1998. O seu corpo está no Panteão Nacional desde 2014. Tem uma biblioteca com o seu nome em Loulé.
            Sophia era filha de Maria Amélia de Mello Breyner e de João Henrique Andresen. Tem origem dinamarquesa pelo lado paterno. O seu bisavô, Jan Heinrich Andresen, desembarcou um dia no Porto e nunca mais abandonou esta região, tendo o seu filho João Henrique comprado, em 1895, a Quinta do Campo Alegre, hoje Jardim Botânico do Porto. Como afirmou em entrevista, em 1993, essa quinta "foi um território fabuloso com uma grande e rica família servida por uma criadagem numerosa". A mãe, Maria Amélia de Mello Breyner, é filha do Tomás de Mello Breyner, conde de Mafra, médico e amigo do rei D. Carlos. Maria Amélia é também neta do conde Henrique de Burnay, um dos homens mais ricos do seu tempo.
            Da sua infância e juventude, a autora recorda sobretudo a importância das casas, lembrança que terá grande impacto na sua obra, ao descrever as casas e os objetos dentro delas, dos quais se lembra. Explica isso do seguinte modo: "Tenho muita memória visual e lembro-me sempre das casas, quarto por quarto, móvel por móvel e lembro-me de muitas casas que desapareceram da minha vida (…). Eu tento «representar», quer dizer, "voltar a tornar presentes» as coisas de que gostei e é isso o que se passa com as casas: quero que a memória delas não vá à deriva, não se perca".
            Está presente em Sophia também uma ideia da poesia como valor transformador fundamental. A sua produção corresponde a ciclos específicos, com a culminação da atividade da escrita durante a noite: "não consigo escrever de manhã, (…) preciso daquela concentração especial que se vai criando pela noite fora.". A vivência noturna da autora é sublinhada em vários poemas ("Noite", "O luar", "O jardim e a noite", "Noite de Abril", "Ó noite"). Aceitava a noção de poeta inspirado, afirmava que a sua poesia lhe acontecia, como a Fernando Pessoa: "Fernando Pessoa dizia: «Aconteceu-me um poema». A minha maneira de escrever fundamental é muito próxima deste «acontecer». (…) Encontrei a poesia antes de saber que havia literatura. Pensava mesmo que os poemas não eram escritos por ninguém, que existiam em si mesmos, por si mesmos, que eram como que um elemento do natural, que estavam suspensos imanentes (…). É difícil descrever o fazer de um poema. Há sempre uma parte que não consigo distinguir, uma parte que se passa na zona onde eu não vejo.". A sua própria vida e as suas próprias lembranças são uma inspiração para a autora, pois, como refere Dulce Maria Quintela, ela "fala de si, através da sua poesia".

            De modo geral, o universo temático da Autora é abrangente e pode ser representado pelos seguintes pontos resumidos :
·         A busca da justiça, do equilíbrio, da harmonia e a exigência do moral
·         Tomada de consciência do tempo em que vivemos
·         A Natureza e o Mar – espaços eufóricos e referenciais para qualquer ser humano
·         O tema da casa
·         Amor
·         Vida em oposição à morte
·         Memória da infância
·         Valores da antiguidade clássica, naturalismo helénico
·         Idealismo e individualismo ao nível psicológico
·         O poeta como pastor do absoluto
·         O humanismo cristão
·         A crença em valores messiânicos e sebastianistas
·         Separação

Mar

Mar, metade da minha alma é feita de maresia 
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia, 
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez. 
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia 
Mais fortes se levantam outra vez, 
Que após cada queda caminho para a vida, 
Por uma nova ilusão entontecida.  
E se vou dizendo aos astros o meu mal 
É porque também tu revoltado e teatral 
Fazes soar a tua dor pelas alturas. 
E se antes de tudo odeio e fujo 
O que é impuro, profano e sujo, 
É só porque as tuas ondas são puras.

Data

Tempo de solidão e de incerteza
Tempo de medo e tempo de traição
Tempo de injustiça e de vileza
Tempo de negação
Tempo de covardia e tempo de ira
Tempo de mascarada e de mentira
Tempo de escravidão
Tempo dos coniventes sem cadastro
Tempo de silêncio e de mordaça
Tempo onde o sangue não tem rasto
Tempo da ameaça.



Eu escolhi estes dois poemas, “Mar” e “Data”, porque achei fáceis e gostei dos temas que abordam. As composições poéticas “Data” e “Mar” são lindas. 

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